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Os novos governantes militares do Egito disseram ao país neste sábado que estão comprometidos com um regime civil e com a democracia depois que Hosni Mubarak foi derrubado após 30 anos no poder. Os militares afirmaram ainda respeitarão todos os tratados assinados pelo país, medida que tranquilizou Washington e Israel.
Alguns ativistas acampados na Praça Tahrir (Libertação), no Cairo, epicentro de um terremoto de revoltas populares que derrubou Mubarak, prometeram permanecer no local até que o Alto Conselho Militar aceita uma agenda de reformas democráticas.
Se os militares não cumprirem as "exigências do povo", os organizadores dos protestos afirmam que vão promover novas manifestações.
No Oriente Médio, governantes autocráticos estão avaliando suas chances de sobrevivência depois que Mubarak foi forçado a sair do poder após um levante popular que durou 18 dias e mudou o curso da história do Egito, incomodando os Estados Unidos e seus aliados.
"A República Árabe do Egito está comprometida com todos os seus tratados regionais e internacionais e obrigações", afirmou um oficial de alta patente do Exército em comunicado transmitido pela televisão estatal.
A mensagem foi claramente elaborada para tentar reduzir as preocupações em Israel, que em 1979 assinou um tratado de paz assinado com o Egito, a primeira nação árabe a declarar paz ao Estado judeu. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, elogiou a declaração, afirmando que o tratado de paz é "fundamental para a paz e a estabilidade em todo o Oriente Médio".
Em outra medida para restaurar a ordem, o Exército afirmou que vai "garantir uma transição pacífica do poder em um ambiente democrático que permita a um governo civil eleito administrar o país para construir um Estado democrático e livre".
Após a declaração Exército, a Irmandade Muçulmana do Egito, afirmou que não está buscando o poder e elogiou os planos dos militares para a transferência de poder a civis.
Multidões comemoraram na Praça Tahrir, enquanto os organizadores dos protestos pediam ao Exército para atender as demandas que incluem a dissolução do Parlamento e o levantamento do estado de emergência usado por Mubarak para massacrar a oposição e dissidentes.
TRANSIÇÃO
"O Exército está conosco, mas ele precisa compreender nossas exigências. Revoluções pela metade matam nações", disse Ghada Elmasalmy, 43, farmacêutico, à Reuters.
Ainda não está claro qual o interesse dos militares em promover uma transição rápida para uma genuína democracia parlamentar. O conselho militar deu poucos detalhes sobre a "fase de transição" e não informou prazos para eleições presidenciais ou parlamentares.
O novo governo, interessado em se dissociar da velha guarda de Mubarak, afirmou que está investigando acusações contra o ex-premiê, o ex-ministro do Interior e ministro da Informação do país, segundo comunicado transmitido pela TV estatal.
Os eventos no Egito, mandaram ondas de choque para o exterior.
Em Sana'a, capital do Iêmen, uma manifestação com mais de 2 mil pessoas inspiradas pela revolta egípcia surgiu depois de confrontos com manifestantes favoráveis ao governo armados com facas e bastões. Em Argel, milhares de policiais interromperam opositores do governo que faziam uma passeata.
Acredita-se que Mubarak, 82, esteja refugiado em sua casa no resort Sharm el-Sheikh, no Mar Vermelho, seu futuro é incerto.
A Al Arabiya informou que o Exército vai em breve dissolver o gabinete e suspender o Parlamento. O presidente do Tribunal Constitucional vai se juntar ao governo com o Conselho Militar, que recebeu a tarefa de administrar o país de 80 milhões de habitantes.
O gabinete, comandado pelo premiê Ahmed Shafiq, um militar, deve se reunir no domingo.
O melhor meio de evitar qualquer tentativa dos militares em continuar no controle podem ser as manifestações nas ruas e a energia dos opositores que retiraram Mubarak do poder depois que ele exerceu o poder sem seu consentimento.
Uma prioridade é restaurar a lei e a ordem antes que a semana de trabalho comece no domingo. Tanques e soldados têm protegido prédios importantes desde que a força policial em desgraça se dissolveu ao não conter os manifestantes.
O chefe do Conselho Militar do Egito, Mohamed Hussein Tantawi, se reuniu neste sábado com o ministro do Interior para discutir a recomposição das forças policiais, afirmou a mídia estatal. Ele encontrou-se ainda com o presidente do Tribunal Constitucional, com o premiê e o ministro da Justiça.
Uma das tarefas e reparar as delegacias de polícia que foram incendiadas por egípcios com profundo ódio pelo Ministério do Interior. Muitos veículos da polícia também foram queimados durante os protestos.
Enquanto isso, moradores do Cairo tiravam fotos de si mesmos segurando flores com soldados sorridentes no primeiro dia da era pós-Mubarak.
Um clima de carnaval tomava conta da Praça Tahrir, onde o Exército desmobilizou pontos de revista e algumas barricadas foram removidas.
A Arábia Saudita, que apoiou todo o regime de Mubarak, deu as boas vindas neste sábado a uma transição pacífica do poder.
Na primeira reação da China, um documento oficial pediu por estabilidade e afirmou que os estrangeiros devem evitar intervir no país.
Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama afirmou que "nada menos que genuína democracia" vai satisfazer os egípcios. "Este não é o fim da transição no Egito. É o começo. Eu tenho certeza de que haverá dias difíceis à frente."
Veja algumas imagens que marcaram os 18 dias de protestos no país: