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O neto do ex-ditador chileno Augusto Pinochet foi expulso do Exército do país na quarta-feira por criticar o judiciário em um discurso altamente politizado no funeral de seu avô, informou uma fonte militar.

``É verdade, aconteceu hoje'', disse a fonte à Reuters quando questionada sobre uma informação veiculada pela televisão estatal chilena.

O neto de Pinochet, também chamado Augusto, foi duramente criticado por seu discurso no funeral de terça-feira, em que elogiou o avô por derrubar pela força o presidente socialista Salvador Allende, em 1973, e atacou os juízes que tentaram levar Pinochet a julgamento por violações aos direitos humanos.

A presidente Michelle Bachelet e o Exército disseram que o jovem Pinochet -capitão do Exército, e como tal proibido de fazer declarações políticas- cometeu ``uma séria violação de disciplina''.

Parte da imprensa local disse que o neto de Pinochet pediu para deixar o Exército, mas a fonte militar disse que esse não foi o caso, pelo menos formalmente.

``Ele nunca fez um pedido oficial. Talvez ele tenha falado a respeito, mas ele nunca fez'', disse a fonte.

Quatro dias depois da morte do homem que governou o Chile durante 17 anos e se tornou sinônimo mundial de violação dos direitos humanos, o debate sobre seu legado não dá sinais de trégua. A presidente Bachelet disse que o ditador representou uma era de ``divisões, ódio e violência''.

Enquanto os chilenos discutem os erros e acertos do regime de Pinochet, que durou de 1973 a 1990, as cinzas do general foram levadas para uma capela familiar na casa de veraneio que fica no litoral a sudoeste de Santiago. Pinochet foi cremado na terça-feira, depois de uma cerimônia na Escola Militar onde estudou. Ele tinha 91 anos.

Cerca de 60 mil pessoas passaram pelo velório de Pinochet nesta semana. Embora a maioria das pessoas fosse simpatizante do general, algumas não eram.

A policia confirmou na quarta-feira que Francisco Cuadrado Prats, neto de um conhecido opositor de Pinochet, cuspiu no caixão do ditador. Cuadrado é neto de Carlos Prats, um general leal a Allende que foi assassinado por homens de Pinochet em 1974 em Buenos Aires. Cuadrado chegou a ser detido, mas foi liberado em seguida sem sofrer acusações.

Ao todo, 145 pessoas foram presas entre domingo e quarta-feira em incidentes vinculados à morte de Pinochet, segundo o Ministério do Interior. Os confrontos deixaram 47 policiais e 18 civis feridos.

O governo estima que cerca de 3.000 pessoas foram mortas pelo regime militar e 28 mil foram torturadas. Além disso, centenas de milhares de chilenos fugiram para o exílio.

Seguidores de Pinochet dizem que, ao derrubar Allende, ele salvou o Chile do comunismo.

Em seu discurso de terça-feira, o capitão Augusto Pinochet descreveu o avô como ``um homem que, no auge da Guerra Fria, derrotou o governo marxista que tentava impor seu modelo totalitário, não pelas urnas, mas pelo uso direto da força''.

Ele atribuiu as várias tentativas de punir Pinochet a ''juízes que querem fazer nome ao invés de buscar a justiça''.

Bachelet, que foi torturada por agentes de Pinochet durante o regime, propôs a reconciliação entre esquerda e direita, mas admitiu que isso será difícil. ``Com a história que o Chile tem, a dor vai durar por muito tempo'', disse ela em entrevista coletiva na qual falou publicamente pela primeira vez sobre a morte de Pinochet.

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