O Exército libanês interveio nesta segunda-feira (22) para pôr fim aos distúrbios em Beirute e em outras regiões, que deixaram pelo menos oito mortos e dezenas de feridos nas últimas horas e aumentaram os temores crescentes das tensões sectárias. Após os atos de violência ocorridos ontem em Beirute, depois do funeral do chefe da Inteligência da polícia, o general Wisan al Hassan, assassinado em um atentado na última sexta-feira, o caos se estendeu pelo resto do país.
Tal situação fez com que as Forças Armadas advertissem em comunicado que vão reprimir qualquer ataque para preservar a paz civil porque "o destino da nação está em jogo" e a segurança é "uma linha vermelha".
Os enfrentamentos mais graves aconteceram na cidade de Trípoli, no norte do país, onde três pessoas morreram e mais de vinte ficaram feridas em combates na madrugada de ontem para hoje, entre os moradores dos bairros de Bab al Tebaneh, de maioria sunita, e os de Jabal Mohsen, com predomínio dos alauítas (xiita).
Apesar de a presença militar ter restabelecido temporariamente a calma em Trípoli, alguns conflitos foram retomados na tarde de hoje com a morte de uma pessoa.
Enquanto isso, unidades militares com o apoio de tanques foram mobilizadas em alguns bairros de Beirute como Qasqas, Cola, Corniche Mazraa e Tariq Yedid, onde elementos armados mascarados fizeram barricadas nas ruas com lixo, pedras, ferros e pneus queimados.
Em Qasqas, um grupo de homens armados disparou contra os soldados que tentavam restaurar a ordem e, segundo um comunicado do Exército, um deles foi morto pelas forças de segurança, um palestino identificado como Ahmad Quaider.
O general Jean Kajwayi, comandante em chefe do Exército, inspecionou as tropas de Beirute e ordenou a proteção dos civis e pediu que não tivessem piedade dos indivíduos armados, independente de suas afiliações, informou a agência de notícias libanesa, "ANN".
Em comunicado, as Forças Armadas destacaram que "os incidentes em algumas partes chegaram a níveis sem precedentes" e que estes eventos demonstram que o país está passando por "momentos muito críticos".
"Pedimos a todos os cidadãos que assumam sua responsabilidade nacional nestas circunstâncias difíceis, que não deixam as emoções controlarem a situação, que saiam das ruas e abram os caminhos que ainda estão fechados", diz o texto.
O Exército também informou que iniciou contatos, especialmente nas regiões onde há conflitos sectários e religiosos, para evitar que "o Líbano se transforme em um terreno para o acerto de contas regional e evitar a exploração do assassinato do mártir Hassan".
Os grupos anti-sírios acusam o regime de Damasco de querer exportar sua crise interna para o Líbano, país dividido entre partidários e dissidentes do regime do presidente sírio, Bashar al Assad.
Além disso, as autoridades vincularam o assassinato de Hassan com o seu descobrimento de um plano supostamente traçado pelo ex-ministro libanês Michel Samaha por iniciativa do chefe de Segurança sírio, Ali Mamluk, para cometer atentados no Líbano.
A oposição libanesa, liderada pelo ex-primeiro-ministro Saad Hariri, pediu a renúncia do governo do primeiro-ministro Najib Mikati, por o considerarem responsável pelo atentado que custou a vida do chefe de Inteligência e de outras duas pessoas, além de 126 feridos.
O atual Executivo é formado principalmente por membros do grupo pró-Síria Oito de Março, liderado pelo grupo xiita Hezbollah, por isso muitas pessoas se manifestaram pedindo um governo de união nacional.
Mikati ofereceu a possibilidade de renúncia no sábado, à espera que o presidente Michel Suleiman realize consultas com os líderes políticos participantes da mesa de diálogo nacional.
O líder druso Walid Jumblatt se mostrou disposto a participar de um governo de unidade e rejeitou a campanha contra o governo, da qual - afirmou - "poderia conduzir a um vazio político desejado pelo regime sírio".
Diante desta situação de violência e instabilidade política, o coordenador especial da ONU para o Líbano, Derek Plumbly, pediu que as partes libanesas "estejam de acordo com o caminho a ser seguido" e busquem o consenso através de um "processo político pacífico".