Cobija e La Paz - O governador do departamento boliviano de Pando, Leopoldo Fernández, foi preso ontem, em Cobija, capital do departamento. O presidente Evo Morales o acusa de estar por trás da morte de ao menos 15 camponeses e de desrespeitar o estado de sítio imposto por La Paz ao departamento.
]"Leopoldo Fernández foi preso e será isolado", afirmou o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, que coordena na cidade de Cobija os esforços para a aplicação do estado de sítio.
A prisão do governador fez seu colega de Tarija, Mario Cossío, interromper as negociações mantidas com o governo em busca de um acordo na Bolívia ontem.
O senador de Tarija, Roberto Ruiz que participou das reuniões com Cossío, com representantes dos outros quatro departamentos de oposição e com o vice-presidente, Álvaro García Linera confirmou que a negociação "ficou suspensa, ainda que não rompida", e que sua delegação "está retornando à sua região" para estudar o assunto.
A prisão ocorreu por volta das 10h30 locais. Quatro colunas militares cercaram a praça onde está a sede do governo. Em seguida, Fernández entrou num veículo acompanhado de aliados políticos, de um advogado, do seu pai e de um padre.
"Começou a ditadura na Bolívia, disse o senador oposicionista Paulo Bravo, que acompanhou Fernández até o avião. "A nossa resistência sempre foi pacífica, dentro do marco legal, mas isso já será impossível na Bolívia. Já é tarde.
Em La Paz, Morales disse que a detenção "obedece a uma ação legal e constitucional. "As Forças Armadas estão cumprindo seu papel no marco do estado de sítio.
O ministro Walker San Miguel (Defesa) disse que Fernández desacatou o estado de sítio e foi preso com base nos artigos da Constituição sobre a medida de exceção. "Pelos meios de comunicação [ele] disse que resistiria à medida e gerou duas manifestações, afirmou.
O estado de sítio em Pando foi decretado na última sexta, depois de um conflito entre oposicionistas e camponeses que deixou 15 mortos e 106 desaparecidos. La Paz responsabiliza Fernández pelo massacre. "Neste país, os intocáveis estão acabando, disse Alfredo Rada, ministro de Governo.
Protestos
Em El Alto, cidade majoritariamente indígena e pró-Morales na Grande La Paz, a prisão foi comemorada com fogos de artifício. Às 12h40, a aeronave trazendo Fernández aterrissou no aeroporto local. Os partidários de Morales fechavam várias saídas do aeroporto com palavras de ordem contra Fernández. Jornalistas foram ameaçados e um assistente de câmera foi atingido por uma pedra na cabeça.
O ministro da Defesa afirmou que o governador de Pando seria levado "para uma base militar, em La Paz, onde teria todas as garantias. Ele teria sido levado à base, por motivo de segurança, em um helicóptero.
Mais tarde, García Linera afirmou que o destino final de Fernández "seria decidido nas próximas horas. Pela Constituição boliviana, o governo deve levar Fernández e os demais 11 detidos em Pando diante de um juiz em 48 horas.