Uma tempestade de fogo caiu sobre Aleppo, bombardeada e metralhada pelas forças do regime de Bashar al-Assad, que tenta expulsar os rebeldes da segunda maior cidade da Síria, onde uma batalha crucial é travada.
Segundo um correspondente da AFP no local, os rebeldes conseguiram se defender das primeiras ofensivas do Exército no bairro de Salaheddine. Os insurgentes afirmam que as forças do regime não progrediram e perderam tanques.
Os bombardeios começaram na madrugada nesta área do sudoeste de Aleppo, que está cercada, e continuaram com a mesma intensidade no início desta tarde, de acordo com um outro correspondente. Quatro helicópteros lançaram foguetes e metralharam o bairro, onde a artilharia e os tanques entraram em ação.
Salaheddine "tem o maior número de rebeldes", indicou à AFP Rami Abdel Rahman, presidente do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Segundo ele, o Exército regular, que enviou reforços nos últimos dias para as proximidades de Aleppo, "não fez progresso desde a manhã e ainda perdeu cinco tanques".
"Estes são os combates mais intensos desde o início da revolta", em março de 2011, ressaltou esta ONG com sede na Grã-Bretanha, que conta com uma rede de militantes no terreno.
Pelo menos 29 pessoas - dez soldados, oito rebeldes e onze civis - foram mortos desde o início da ofensiva, de acordo com o OSDH, que registrou mais de 20 mil mortos, incluindo 14 mil civis, em 16 meses de revolta.
Tanques foram mobilizados nos arredores de Salaheddine, de acordo com militantes e insurgentes, que relataram confrontos em várias outras regiões de Aleppo, bombardeadas por helicópteros.
A agência de notícias oficial Sana relatou, por sua vez, confrontos no bairro de Al-Fourkane (leste) com "um grupo terrorista que aterrorizou os habitantes", matando dois terroristas e detendo outros três.
Moradores "aterrorizados"
"Há milhares de pessoas nas ruas fugindo do bombardeio, elas são aterrorizadas por helicópteros que voam baixo", segundo Amer, porta-voz de uma rede de ativistas em Aleppo contatado via Skype.
"Um número muito grande de civis reuniu-se em parques públicos em áreas mais seguras, mas a maioria se refugiou nas escolas. Eles não podem sair da cidade", acrescentou.
Segundo os correspondentes da AFP, as pessoas têm grandes dificuldades para obter suprimentos de pão e muitos civis foram procurar refúgio nos porões das casas.
A ofensiva foi iniciada mais de uma semana depois da abertura desta nova frente, em 20 de julho. O Exército recuperou o controle de Damasco, onde luta contra os rebeldes há vários dias.
Esta batalha é crucial para ambas as partes. "Para o regime, é uma cidade em que vivem muitos aliados, principalmente empresários que poderiam financiar parte do seu esforço de guerra", acredita Ignace Leverrier, ex-diplomata francês na Síria, enquanto os rebeldes buscam criar uma área protegida no norte.
Ocidentais contra russos
Vários países ocidentais, além da ONU, manifestaram preocupação com esta ofensiva. Washington teme a possibilidade de um novo "massacre" neste país, mergulhado na violência provocada pela repressão de um movimento de contestação sem precedentes contra o regime.
Enquanto a Rússia, aliada do regime sírio, disse que "não é realista" esperar que o poder permaneça com os braços cruzados enquanto os rebeldes "ocupam" Aleppo, a capital econômica do país com 2,5 milhões de habitantes.
"Estamos tentando convencer o governo de que ele deve dar o primeiro passo, mas quando a oposição ocupa cidades como Aleppo, onde uma nova tragédia se desenha, não é realista esperar que (o governo) aceite isso", disse o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov.
Em outras partes do país, o Exército tentou invadir a região de Lajjate, na província de Deraa (sul). Perto de Hama (centro), a localidade de Karnaz foi ocupada pelo Exército, que também bombardeou Homs (centro), de acordo com o OSDH.
Com as 29 mortes em Aleppo, o registro chegou a 90 pessoas que perderam suas vidas neste sábado na Síria, disse a ONG.
No vizinho Líbano, foram registrados confrontos durante a noite entre moradores de bairros alauítas partidários regime sírio e sunitas hostis a Bashar al-Assad, em Trípoli, deixando nove feridos. O Exército libanês interferiu para restaurar a calma.
A Arábia Saudita já arrecadou mais de 72,3 milhões de dólares em cinco dias, durante uma campanha em favor do povo sírio.