Água salgada flui durante os meses de verão em Marte, elevando as possibilidades de que o planeta, há muito considerado árido, pode suportar vida atualmente, disseram nesta segunda-feira (28) cientistas que analisaram dados de uma espaçonave da Nasa.
Embora a fonte e a composição química da água marciana sejam desconhecidas, a descoberta vai mudar o pensamento dos cientistas sobre se o planeta mais parecido com a Terra no Sistema Solar abriga vida microbiana embaixo de sua crosta radioativa.
“Isso sugere que seria possível para a vida estar em Marte hoje”, disse John Grunsfeld, administrador associado da Nasa para as ciências, a jornalistas ao discutir o estudo publicado na revista científica Nature Geoscience.
“Marte não é o planeta seco e árido que nós pensávamos no passado. Sob certas circunstâncias, a água líquida é encontrada em Marte”, disse Jim Green, diretor da agência para ciência planetária.
Mas a Nasa não vai correr para buscar a fonte dos recém-descobertos resíduos de água salgada para procurar possíveis formas de vida tão já.
“Se eu fosse um micróbio em Marte, eu provavelmente não viveria perto de um desses locais. Eu iria querer viver mais ao norte ou ao sul, bem abaixo da superfície e onde há mais de água fresca glacial. Apenas suspeitamos que esses lugares existem, e temos algumas evidências científicas de que existem”, disse Grunsfeld.
A descoberta de água foi feita quando cientistas desenvolveram uma nova técnica para analisar mapas químicos da superfície de Marte obtidos pela espaçonave da Nasa Mars Reconnaissance Orbiter.
Esses mapas encontraram indicadores de sais que só se formam na presença de água em canais estreitos feitos em paredes de penhascos ao longo da região equatorial do planeta.
Esses declives, reportados pela primeira vez em 2011, aparecem durante os quentes meses de verão em Marte, então desaparecem quando as temperaturas caem. Algo similar acontece com as digitais químicas de minerais, mostrou o novo estudo.
Cientistas suspeitavam que essas marcas, conhecidas como RSL, se formaram pelo fluxo de água, mas não tinham anteriormente conseguido fazer as medições.
“Eu achava que não havia esperança”, disse Lujendra Ojha, principal autora do estudo, à Reuters.
A Mars Reconnaissance Orbiter tira suas medidas durante a parte mais quente do dia marciano, então os cientistas acreditam que qualquer vestígio de água, ou digitais de minerais hidratados, teriam evaporado.
Além disso, os instrumentos quimicamente sensíveis da espaçonave não conseguem abrigar detalhes tão pequenos quanto os dos canais estreitos, que tipicamente tem largura menor que 5 metros.
Mas Ojha e seus colegas criaram um programa que consegue analisar pixels individuais. Esses dados foram correlacionados com imagens de alta resolução dos canais. Cientistas se concentraram nos canais mais largos e determinaram uma compatibilidade de 100 por cento entre sua localização e a detecção de sais hidratados.
Ainda não se sabe se os minerais estão absorvendo vapor d’água diretamente da fina atmosfera marciana, ou se há uma fonte de gelo embaixo da superfície.Independentemente da fonte, a perspectiva de água líquida, mesmo que sazonalmente, gera a intrigante probabilidade de que Marte, presumivelmente um planeta gelado e sem vida, possa suportar vida atualmente.
O cientista Alfred McEwen, da Universidade do Arizona, no entanto, afirma que muito mais informação sobre a composição química da água marciana é necessária para se fazer tal avaliação.
“Não é necessariamente habitável só porque tem água, pelo menos não para organismos terrestres”, disse ele.
A perspectiva da existência de água, mesmo que extremamente salgada, também tem implicações para futuras missões de humanos para Marte. A Nasa quer enviar astronautas norte-americanos para o planeta em meados da década de 2030.
“Marte tem recursos que são úteis para futuros viajantes”, disse Grunsfeld. “A água é realmente crucial, porque precisamos de água para beber, oxigênio para respirar.”
A água também pode ser dividida em moléculas de hidrogênio e oxigênio para produzir combustíveis para foguetes, necessários para trazer os astronautas de volta para a Terra.
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