Enquanto o público celebra o fato de que estamos muito perto de completar a marca de 2 mil planetas descobertos fora do Sistema Solar, cientistas travam uma batalha sobre a existência de alguns desses mundos.
A polêmica diz respeito aos planetas descobertos pelo método mais tradicional, responsável pelo primeiro achado do tipo, em 1995, e de muitos outros desde então. É chamado de “medição do bamboleio gravitacional”: os planetas, que por regra sempre estão no entorno de uma estrela (como o Sol, por exemplo) exercem uma força de gravidade nela, fazendo com que ela oscile. Os cientistas captam esta oscilação e sabem que há ali um objeto planetário.
É uma técnica que costuma ser combinada com as detecções do satélite Kepler, da Nasa, capaz de medir pequenas reduções de brilho da estrela quando um planeta passa à sua frente. Enquanto o bamboleio gravitacional é importante por permitir uma estimativa de sua massa, o satélite Kepler permite estimar apenas o tamanho.
Contudo, no fim do ano passado, uma equipe liderada pelo astrônomo Paul Robertson, da Universidade Estadual da Pensilvânia (EUA), apontou que três dos planetas detectados por velocidade radial (mas sem trânsito), em torno da estrela anã vermelha Gliese 581, eram falsos positivos. Segundo sua análise, a atividade da estrela combinada a sua rotação criavam sinais “fantasmas”, que só pareciam ser planetas, mas não eram.
Podia ser apenas uma constatação pontual, não fosse um detalhe: Gliese 581 é uma das estrelas mais “calmas”, em termos de atividade, que se conhece. Ou seja, se Robertson tiver razão, a maior parte dos planetas de porte similar ao da Terra que foram detectados por velocidade radial podem não existir.
Alguns cientistas reagiram. Em março deste ano, Guillem Anglada-Escudé e Mikko Tuomi, da Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido, publicaram na revista Science um comentário técnico questionando o rigor estatístico da análise de Robertson. O americano e seus colegas publicaram na mesma edição uma resposta, dizendo que Anglada-Escudé e companhia “ignoram aspectos da atividade estelar que apresentamos” e que mostrariam como surgem os sinais falsos.
O grande problema é saber se é possível separar o “ruído” produzido pela atividade estelar de sinais genuínos de planetas. Enquanto cientistas de ambos os lados procuram novas técnicas estatísticas que permitam separar os planetas reais dos “fantasmas”, a polêmica continua. “Colher mais dados é provavelmente o único modo de resolver essa disputa de forma satisfatória para a comunidade inteira”, diz o cientista da Pensilvânia.
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