Guardas de fronteira da Tunísia deram tiros para o alto nesta terça-feira, numa tentativa de dispersar uma multidão que tentava fugir da violência política na vizinha Líbia.
A passagem para a Tunísia no posto fronteiriço de Ras Jdir está aberta, recebendo principalmente estrangeiros que trabalham na Tunísia. Mas os guardas não dão conta do afluxo de pessoas, o que provoca tumultos no local.
A multidão fica espremida contra um muro de concreto que divide a "terra de ninguém" entre os postos de fronteira da Líbia e da Tunísia. De vez em quando, os guardas tunisianos abrem um portão de metal azul para deixar um pequeno grupo passar.
Mas algumas pessoas atiram suas sacolas sobre o muro e tentam escalá-lo. Os guardas reagiram inicialmente com cassetetes, e depois dando tiros para o alto.
Um repórter da Reuters viu pelo menos três pessoas desmaiarem no meio do tumulto e serem retiradas por enfermeiros do Crescente Vermelho. Voluntários atiravam garrafas de água sobre o muro para a multidão.
A Líbia tem registrado um grande êxodo, principalmente de trabalhadores migrantes, desde o início da rebelião contra o regime de Muamar Kadafi, reprimida com violência pelas forças do governo.
Houve cenas caóticas também no lado tunisiano da fronteira. Milhares de refugiados egípcios perguntavam por que o governo do Egito não se empenha em repatriá-los. "Quando vão nos tirar daqui? Não podemos aceitar isso", disse um egípcio num acampamento a cinco quilômetros da fronteira. "Deem-me um camelo. Aceito um camelo. Só quero ir para casa."
Muitos estrangeiros retidos na fronteira não têm dinheiro para voltar aos seus países. Dormem há dias ao relento, sob frio e chuva.
Houve relatos de que as autoridades egípcias enviariam dois navios a um porto da região para resgatar seus cidadãos, mas até esta terça-feira não havia nem sinal deles.
Um funcionário do Acnur (agência da ONU para refugiados) ampliou durante a noite um acampamento junto à fronteira, montando barracas com capacidade para acomodar até 10 mil pessoas, segundo um porta-voz.
A organização se prepara para montar mais tendas, de modo que o acampamento possa receber até 20 mil refugiados.
"Água e saneamento são grandes questões, banheiros são a nossa próxima dor de cabeça", afirmou Hovig Etyemezian, funcionário do Acnur no acampamento, onde durante a noite foram montadas 500 barracas brancas, com capacidade para até dez pessoas em cada uma.