O experimento feito pelos cientistas do Instituto J. Craig Venter é visto ao mesmo tempo como brilhante e perigoso. Na opinião do presidente da Sociedade Bra­­sileira de Genética Médica, Salmo Raskin, a criação de uma célula com genoma sintético é algo que se aproxima da manipulação de uma vida. Se, por um lado, a descoberta pode representar um novo rumo na pesquisa de tratamentos para doenças genéticas, por exemplo, por outro, acende o medo de que essa tecnologia acabe sendo usada de maneira negativa. "É algo brilhante, mas que além de mexer com uma série de questões éticas e religiosas, tem o risco de no futuro vir a ser usado em bioterrorismo, por exemplo", afirma.

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Para o especialista, o fato de alguns genes terem se perdido du­­rante o transplante significa que a técnica ainda não está to­­talmente dominada. "Não se sa­­be o impacto da perda desses genes, pode ser que a ausência deles al­­tere características im­­­portantes do organismo e que ele tenha ou­­tro comportamento. Há o risco de isso fugir do controle", explica.

De acordo com Raskin, ainda é difícil fazer uma previsão sobre as aplicações práticas da descoberta no futuro da medicina, mas ele diz acreditar que a metodologia usada pela equipe de Venter possa vir a ser aplicada no tratamento de doenças genéticas. "Po­­de ser que, dentro de algumas dé­­­­cadas, a gente consiga tratar, por exemplo, pacientes com a sín­­drome de Turner (doença que acomete meninas nascidas com apenas um cromossomo sexual) co­­locando dentro das células dessa pessoa outro cromossomo ou ain­­da em outra situação inserir na célula algo que iniba o cromossomo 21 e assim tratar a sín­­drome de Down", acrescenta.

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Pa­­ra o geneticista, o experimento é tão impactante na biotecnologia que pode ser comparado ao que re­­presentou a descoberta de que um átomo é divisível na Física.

O pesquisador e geneticista da Faculdade de Medicina de Ri­­bei­­rão Preto da USP, Wilson Araú­­jo da Silva Junio, afirma que a descoberta representa um grande avanço na biologia sintética. "Torna possível fazer com que pequenos organismos sintéticos desempenhem uma função de­­terminada artificialmente", ob­­serva. Uma das propostas da equi­­pe de Venter é utilizar bactérias programadas na produção de bio­­combustíveis ou limpeza de água contaminada.