Agora uma espaçonave contendo o Curiosity um astromóvel do tamanho de um carro movido à base de energia nuclear está voando a 12.870 quilômetros por hora e se aproximando de Marte, etapa final de uma jornada que começou em novembro. Cheio de novos e engenhosos instrumentos, o astromóvel promete fornecer o melhor exame de todos os tempos sobre o Planeta Vermelho, escavando pistas para responder uma questão profunda: Será possível já ter existido vida lá?
Na segunda-feira de manhã, espera-se que a espaçonave execute uma série de manobras assustadoramente complicadas e leve o astromóvel à superfície. Seu novo lar será a Cratera de Gale, ao sul do equador marciano, que tem 154 quilômetros de largura e foi criada por um meteoro há mais de 3,5 bilhões de anos. É um dos lugares mais baixos de Marte, o que ajudará a avançar a missão de US$2,5 bilhões do Curiosity: estudar o meio ambiente primitivo de Marte.
Partes do passado marciano podem estar nas rochas no fundo da cratera. Durante a última década, espaçonaves robóticas da Nasa têm trazido provas convincentes de que num passado remoto, o planeta continha um dos pré-requisitos para a vida. Corria água em Marte, pelo menos ocasionalmente.
Os outros pré-requisitos para a vida são energia e moléculas baseadas em carbono. O calor vulcânico ou da luz do sol poderiam fornecer a energia necessária. Com o Curiosity, a procura é por moléculas baseadas em carbono.
"Esta é a primeira vez que temos um laboratório analítico de verdade indo rumo à superfície de Marte", disse John M. Grunsfeld, o administrador da Nasa responsável pela diretoria da missão científica.
Difícil aterrissagem
Mas antes que o Curiosity possa fazer quaisquer descobertas, ele precisa aterrissar.
Na sala de controle do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, em Pasadena, na Califórnia, ainda será noite de domingo quando se iniciará a espera nervosa. Primeiro virá a notícia de que a espaçonave contendo o Curiosity entrou na atmosfera marciana. Sete minutos depois, a espaçonave deverá executar impecavelmente uma série de manobras complexas para pousar o astromóvel na superfície.
Se tudo for conforme planejado, a fricção do ar rarefeito de Marte passando pelo escudo térmico terá desacelerado a espaçonave para 1.600 km por hora. Um paraquedas de 15 metros de largura se abrirá, gerando uma força de arraste equivalente a quase 30 mil quilos. E então o escudo térmico será descartado para que o radar possa encontrar o local de pouso na Cratera de Gale.
Mesmo com a desaceleração do paraquedas, a espaçonave estará descendo para a superfície a 320 km por hora. O próximo passo será cortar o paraquedas e ligar os motores de descida para diminuir ainda mais a velocidade.
Os últimos três astromóveis da Nasa o Sojourner em 1997 e o Spirit e Opportunity em 2004 tinham sistemas de pouso semelhantes, exceto pelo último passo. Nesses três, inflava-se um casulo de air-bags em torno do astromóvel, que caía em queda livre, então, pelos últimos 15 metros, quicando e rolando até parar.
Mas o Curiosity, do tamanho de um Mini Cooper, é cinco vezes mais pesado que o Spirit e o Opportunity, o que faz com que os air-bags não sejam uma opção prática.
No entanto, o Curiosity será descido por um cabo até o chão enquanto a nave paira com os foguetes ligados, no que a Nasa chama de manobra de guindaste aéreo. Depois de o Curiosity chegar em Marte a suaves 2.7 km por hora, o cabo será cortado, e os foguetes serão liberados para voarem e caírem a pouco menos de um km de distância. Aproximadamente 14 minutos depois da aterrissagem, o destino do Curiosity será conhecido pelo controle da missão.
Instrumentos
O Curiosity traz consigo algumas das mais sofisticadas ferramentas científicas já produzidas. O maior e mais ambicioso dos instrumentos se chama Análise de Amostras de Marte ou Sam na sigla em inglês.
O Sam contém 74 recipientes para estudar rochas escavadas. A maioria das amostras será aquecida a 980 graus, e três instrumentos diferentes serão utilizados para identificar quais gases são liberados, incluindo a possibilidade de moléculas orgânicas baseadas em carbono.
O Sam também irá analisar a atmosfera e há a possibilidade de que ele confirme as alegações polêmicas de que ela contém metano. Se há metano na atmosfera de Marte, ele deve estar sendo produzido por alguma coisa talvez micróbios.
Tradução: Adriano Scandolara.
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