Uma série de pacotes contendo artefatos explosivos endereçados a adversários políticos do presidente Donald Trump se transformou em arma democrata para angariar votos nas eleições de novembro.
Os objetos, bombas improvisadas feitas de um tubo preenchido com explosivos, começaram a ser enviados a rivais do republicano na segunda-feira (22). O primeiro a acusar o recebimento de um pacote foi o bilionário George Soros, grande doador do Partido Democrata.
Na noite de terça (23), outro explosivo foi interceptado pelo Serviço Secreto na casa do ex-presidente Bill Clinton e da ex-secretária de Estado Hillary Clinton em Chappaqua, Nova York.
A ex-senadora, derrotada por Trump nas eleições presidenciais de 2016, estava na Flórida ajudando na campanha democrata, mas o marido estava em casa.
Nesta quarta, o caso ganhou novas dimensões, à medida em que informações, algumas posteriormente desmentidas, começaram a aparecer.
No campo das confirmações: um explosivo foi interceptado no escritório do ex-presidente Barack Obama, em Washington; um objeto endereçado a Eric Holder, ex-secretário de Justiça na administração do democrata, retornou ao escritório da congressista Debbie Wasserman Schultz, que foi esvaziado, e um artefato foi encontrado no centro de triagem do Congresso, destinado à democrata Maxine Waters.
A emissora CNN, que pertence ao grupo chamado por Trump de "mídia fake news" e de inimigo do povo americano, também recebeu uma das bombas artesanais. No meio do pacote enviado à redação da TV, no centro de Manhattan, que foi esvaziada, foi encontrado um envelope com um pó branco.
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O material foi endereçado a John Brennan, ex-diretor da CIA (agência de inteligência) que atuou no governo Obama e teve a autorização de segurança "que permite acesso a informações confidenciais" revogada por Trump.
No campo dos desmentidos: a Casa Branca não recebeu artefato suspeito; o pacote que chegou ao escritório do governador de Nova York, Andrew Cuomo, era inofensivo, assim como o avistado no prédio do jornal The San Diego Union-Tribune, onde também fica o escritório da senadora democrata Kamala Harris.
Fora isso, poucas certezas. O FBI (polícia federal americana) emitiu comunicado em que afirma que os artefatos endereçados a Obama, Hillary, Holder e Brennan, na CNN, são semelhantes ao descoberto na casa de Soros. Todos tinham como endereço de remetente o escritório da democrata Debbie Wasserman Schultz, na Flórida.
Narrativa democrata
Algumas dúvidas persistem, uma das principais sendo se os alvos dos artefatos explosivos foram escolhidos por serem figuras políticas vilanizadas pela direita e, mais especificamente, pelo presidente Donald Trump.
Há poucos elementos concretos que permitem a conclusão, mas isso não impediu democratas de tentar construir uma narrativa em que associam a retórica inflamada de Trump ao episódio.
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A 12 dias das eleições em que esperam reaver o controle da Câmara dos Deputados e do Senado, a tentativa democrata de capitalizar em cima do episódio veio a jato.
Na Flórida, Hillary Clinton criticou as divisões no país e pediu votos para eleger políticos que possam mudar o atual cenário:
"É um tempo perturbador, não é? E é um tempo de profundas divisões, e nós temos que fazer tudo o que pudermos para unificar nosso país".
Em Nova York, o prefeito Bill de Blasio e o governador Andrew Cuomo, ambos democratas, exibiram um discurso afinado. Ambos qualificaram o envio dos pacotes como terrorismo.
"É um tempo muito doloroso em nosso país. É um tempo em que as pessoas estão sentindo muito ódio no ar. Incidentes como esse exacerbam essa dor, e exacerbam o medo", afirmou o prefeito.
Cuomo foi na mesma linha. O político, que busca um terceiro mandato, tem se apresentado com um dos mais combativos adversários de Trump, embora oficialmente descarte intenção de disputar a Casa Branca em 2020.
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Depois do pronunciamento ao lado de De Blasio, ele disse: "eu quero diminuir a temperatura. Eu quero diminuir o rancor. Pelo bem de todos, presidente, Senado, Congresso, governadores, diminuam a retórica", disse.
A CNN, outro dos alvos preferidos de Trump, também se apressou a criticar o republicano. "Há uma falta de compreensão total e completa na Casa Branca sobre a seriedade de seus contínuos ataques à imprensa", afirmou, em mensagem, Jeff Zucker, presidente da CNN Worldwide.
"O presidente, e especialmente a secretária de Imprensa da Casa Branca [Sarah Sanders], deveriam entender que suas palavras importam. Até agora, eles não mostraram nenhuma compreensão disso."
Trump volta a atacar a mídia
Enquanto isso, Trump colocou parte da culpa pelas tentativas de ataque na conta da imprensa.
Falando em um comício em Wisconsin, na noite de quarta-feira, o presidente disse que “qualquer ato ou ameaça de violência política é um ataque à nossa própria democracia".
"Queremos que todos os lados se unam em paz e harmonia. Nós podemos fazer isso ... Aqueles engajados na arena política devem parar de tratar os oponentes políticos como moralmente defeituosos".
Mas o discurso mais brando se transformou, em um momento, em mais um ataque à imprensa. A mídia, ele disse, tem "a responsabilidade de definir um tom civil e parar a hostilidade sem fim e constantes ataques e histórias negativas e muitas vezes falsas".
Nesta quinta, Trump reafirmou o que havia dito na noite anterior.
“Uma parte muito grande da raiva que vemos hoje em nossa sociedade é causada pelos relatos propositadamente falsos e imprecisos da mídia tradicional a qual me refiro como Fake News. Ficou tão ruim e odioso que está além da descrições. A mídia tradicional deve limpar seu atos, rápido!”, tuitou o republicano.
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