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O expurgo que a vice-presidente da Nicarágua e esposa do ditador Daniel Ortega, Rosario Murillo, promove no Judiciário do país centro-americano já ultrapassa as 900 demissões, o equivalente a cerca de 10% do quadro de funcionários, informou o jornal Confidencial.
Segundo o periódico, estão incluídos nessa leva juízes da Corte Suprema de Justiça (CSJ), desembargadores, diretores de áreas, secretários de instâncias centrais e locais, além de pessoal administrativo e de serviços em todo o país, de acordo com relatos de fontes ligadas ao Poder Judiciário e de quatro ex-servidores.
Alguns dos demitidos foram presos e suas famílias não estão conseguindo contato com eles.
De acordo com o Confidencial, contando as cadeiras que já estavam vagas e as incluídas no expurgo de agora, ao menos dez dos 16 assentos da CSJ estão sem titular.
Em publicação no X, o advogado e ex-funcionário da Justiça Yader Morazán, que já havia deixado a Nicarágua, relatou que a situação é tão dramática que alguns tribunais estão sem condições de funcionar.
“Existem ‘casas de Justiça’ (tribunais nos municípios) nas quais apenas o segurança foi poupado, e nos departamentos [equivalentes a estados no Brasil] as varas ainda em funcionamento devem assumir a carga de trabalho das ‘destituídas’. Sem esquecer que muitos juízes demitidos hoje são vistos como leprosos e sentirão na carne o que os advogados considerados ‘golpistas’ viveram”, escreveu.
Tudo começou em 24 de outubro, quando a presidente da CSJ, Alba Luz Ramos, foi destituída do cargo.
Rosario Murillo foi colocada no comando da última instância do Judiciário da Nicarágua, o que representou a ampliação do poder de Ortega sobre todas as instâncias do Estado nicaraguense, já que comanda o Executivo com mão de ferro desde 2007 e controla a Assembleia Nacional da Nicarágua.