Nos últimos meses, o Peru tem sido alvo de uma grave onda de extorsões realizadas por diversas facções criminosas que afetam principalmente os pequenos negócios e setores essenciais do país, como o transporte público e privado.
Conforme informações, criminosos vêm exigindo o pagamento de “cotas”, que chegam a US$ 200 semanais (R$ 1086, na cotação atual), para que trabalhadores e empresários não sejam alvos de ataques. A onda de extorsões gerou uma crise de insegurança que culminou nos últimos dias em protestos e paralisações em vários distritos do país.
Nesta quinta-feira (26), o caos tomou conta de Lima e outras regiões do Peru quando motoristas e trabalhadores de diversas empresas do transporte público e privado decidiram parar para protestar pelo fim das extorsões e por mais segurança. O ato ocorreu após o assassinato de três motoristas pelas mãos de criminosos que cobram taxas para não realizarem ataques.
Diante desse cenário, o governo peruano foi forçado a agir. Nesta sexta-feira (27), após um dia de greve, as autoridades federais declararam estado de emergência por 60 dias em 11 distritos de Lima e um na província de Callao. O ministro da Defesa, Walter Astudillo, anunciou que a Polícia Nacional do Peru (PNP) será responsável pela segurança nessas regiões, com apoio das Forças Armadas. Além disso, o governo planeja endurecer as penas para crimes de extorsão, assassinato por contrato e posse de armas de guerra, classificando esses delitos como “terrorismo urbano”.
A Confederação Nacional de Instituições Empresariais Privadas (Confiep) acusou o governo peruano de permitir que o crime organizado criasse um “governo paralelo” no país, que está “ganhando a batalha contra o Estado”. Em um comunicado, a entidade pediu ao Congresso que aprove rapidamente um projeto de lei que tipifique a extorsão como terrorismo urbano, a fim de combater com mais eficácia os grupos criminosos que aterrorizam o país.
Um grave problema
As extorsões realizadas por grupos criminosos têm como principal alvo os trabalhadores mais vulneráveis, especialmente os pequenos empresários, motoristas do transporte público e privado e comerciantes. De acordo com Noam López, cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica do Peru (PUCP), “os pequenos negócios, como comerciantes, ambulantes e mototaxistas, estão na mira dos grupos criminosos porque, ao contrário dos grandes empresários, esses empreendedores têm menos acesso a mecanismos de defesa, como segurança privada”. López ainda destaca que extorquir pequenos empreendedores tem sido uma fonte constante, ainda que de baixo valor, de renda para os criminosos.
Os números das extorsões no Peru são alarmantes. Dados da PUC do Peru revelam que, desde o início de 2024, 15 empresas de transporte público estão sendo ameaçadas por grupos criminosos para pagarem taxas cujos valores não foram divulgados. A recusa ao pagamento por parte de algumas delas já resultou no assassinato de nove motoristas, sendo três só em setembro.
A situação é crítica nos distritos de Lima e Callao, onde foram registrados 15 atentados contra ônibus e veículos coletivos só em setembro deste ano - todos perpetrados por criminosos que realizam extorsões.
A violência crescente foi o principal fator para a paralisação de três dessas empresas de transporte nesta quinta, agravando a situação para milhões de cidadãos que dependem do transporte urbano para suas atividades diárias. Com isso, não apenas a segurança está comprometida, mas também a economia do país, que sofre com a falta de um serviço essencial e a pressão sobre trabalhadores e empresários para pagarem aos criminosos.
Além do transporte público e privado, o setor de construção civil também tem sido duramente atingido. Em 2024, cinco líderes sindicais foram assassinados por não pagarem taxas aos criminosos, elevando o total para 25 mortes desde 2011. A paralisação das obras devido à violência e às extorsões deixou 5 mil trabalhadores desempregados apenas em 2023, conforme dados da Federação de Trabalhadores em Construção Civil do Peru.
Outro setor fortemente afetado é o de pequenos comércios, especialmente os donos de pequenas mercearias. De acordo com a Associação de Pequenos Comerciantes do Peru, 9 mil denúncias de extorsão foram registradas em 2024, e 2,6 mil pequenas mercearias foram fechadas em 2023. Estima-se que, até o final de 2024, outras 5 mil também serão forçadas a fechar devido à insegurança e ao temor de ataques.
A geografia das extorsões também é ampla. Dados mostram que 34% dos casos ocorrem na região leste da província de Lima, abrangendo distritos como Ate e San Juan de Lurigancho.
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