Por mais brutal que tenha sido o massacre que Anders Behring Breivik fez na Noruega, sua atrocidade deu fôlego para que políticos europeus de extrema direita manifestassem identificação com as ideias do assassino. A imprensa do mundo todo publicou, na última semana, as palavras que um italiano disse após o duplo atentado na Noruega. Francesco Speroni, ex-ministro da Reforma Institucional de Silvio Berlusconi (entre 1994 e 1995) provocou: "As ideias de Breivik são em defesa da civilização ocidental".
Além das consequências óbvias que a ação de Breivik teve por tirar a vida de 77 pessoas, fica o questionamento de qual efeito ideológico terá sobre toda a Europa. "Esse episódio é uma reação à discussão mundial em torno do reconhecimento de povos, fora do padrão eurocêntrico. Existe um movimento de olhar para o africano, o homossexual, para o migrante", diz o professor de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Lindomar Bonetti.
Depois do trauma do Holocausto e das marcas da Segunda Guerra Mundial, os países europeus pareciam, pelo menos nas esferas oficiais como os governos , prezar muito pelos direitos humanos e pela igualdade. Mas a professora de Direito Internacional Público do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba) Elizabeth Holler Lee lembra que os grupos extremistas nunca deixaram de existir. "Não é porque não falamos sobre eles, porque não aparecem que eles não existem".
Elizabeth estudou em Paris nos anos 90 e lembra que na época havia manifestações públicas contra a miscigenação. "Os ultranacionalistas achavam um absurdo que a seleção francesa de futebol tivesse jogadores negros, mesmo com nacionalidade francesa, mesmo que tivessem nascido na França".
Para a professora de Direito, o problema de intolerância das diferenças é agravado pela crise econômica. "Enquanto havia emprego para todo mundo, enquanto os imigrantes eram mão de obra barata e não incomodavam eram tolerados. O problema começou a ficar mais grave quando todos passaram a sofrer com a crise".
Efeitos políticos
Politicamente, as atitudes do assassino norueguês podem ter dois efeitos. Um deles, por mais absurdo que pareça, é a ascensão da extrema direita europeia, ou pelo menos manifestações mais escancaradas de sua ideologia. Mario Borghezio, deputado italiano direitista, chegou a dizer que "algumas das ideias que ele expressou são boas, exceto a violência. Algumas outras são ótimas". O político também defendeu que o atentado poderia ser parte de um plano para desacreditar a extrema direita europeia. Suas palavras levaram políticos da oposição e até do seu próprio partido a reivindicarem sua renúncia.
"A direita pode se intensificar, mas a discussão também vai ser fortalecida. Forças opositoras tendem a fortalecer seus rivais", destaca Bonetti. Então, o outro efeito do atentado pode ser o fortalecimento da esquerda que anda mal das pernas na Europa.
Graças a Breivik, os esquerdistas estão munidos de uma série de argumentos contra o extremismo de direita, o principal deles é que as ideias dos radicais podem se transformar em catástrofes da intolerância. Ainda assim, a professora Elizabeth não acha que os partidos de esquerda recuperem as lideranças que tinham no passado. "A esquerda europeia passa por uma baixa. Isso é normal, é cíclico. E a alternância de poder é importante. O problema é que com a crise o socialismo não consegue sustentar suas bases".
Muitos dos militantes da extrema direita que se fortalece são membros da elite, com embasamento teórico e até científico para suas ideologias. Bonetti defende que uma mudança na maneira de pensar europeia poderia ajudar a conter os extremistas. "O pensamento científico europeu é muito eurocêntrico. Lá, o estabelecimento de padrões de comportamento humano é muito homogêneo". Para o professor da PUCPR, as evoluções ideológicas dependem de diversos setores da sociedade. "Os governos e a academia tem duplo papel, questionar as bases teóricas e ver o lado político do pensamento científico".
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