Rio - O reservatório da fábrica de alumina na Hungria de onde vazou a lama tóxica que, após matar pelo menos quatro pessoas e inundar ao menos sete vilarejos atingiu nesta quinta-feira o Danúbio, já aparecia em 2006 em uma lista de mais de 150 instalações industriais que apresentavam risco de acidente para o segundo rio mais longo da Europa.
Segundo reportagem desta quinta-feira do jornal "New York Times", o alerta foi dado pela Comissão Internacional de Proteção ao Danúbio, que acompanha as atividades de conservação nos 14 países cortados pelo rio ou seus afluentes.
Os ambientalistas ressaltam que, apesar dos efeitos do derramamento da lama vermelha sobre o rio não serem tão sérios como se imaginava, servem para lembrar da vulnerabilidade do Danúbio à atividade industrial em suas margens, sobretudo no leste europeu.
"Países e companhias vêm progressivamente tentando lidar com esse problema, mas claramente qualquer iniciativa feita aqui não foi suficiente. Isso deixa claro para mim a necessidade de tomar precauções", afirmou Philip Weller, secretário-executivo da comissão, baseada em Budapeste.
A região do Danúbio é repleta de fábricas e minas remanescentes da era comunista, muitas delas fechadas. Mas as instalações antigas de armazenamento de resíduos ainda guardam material perigoso e, com a deterioração das estruturas, estão cada vez mais propensas a acidentes.
Danúbio é atingido
O vazamento no oeste húngaro alcançou nesta quinta-feira o Danúbio. Segundo a subdiretora da Direção Geral de Desastres do país, Reka Becz, embora a situação pareça estar sob controle, o grau de alcalinidade na confluência com o rio Raba estava em 9,3, quando o normal seria até 8.
A contaminação, de acordo com ela, já havia atingido o Danúbio, que corta outros sete países - Áustria, Croácia, Sérvia, Romênia, Bulgária, Ucrânia e Moldávia - e desemboca no mar Negro.
De acordo com o porta-voz da agência de desastres do país, Tibor Dobson, a lama tóxica já causou a morte de todos os peixes no pequeno rio Marcal, o primeiro a ser atingido pelo vazamento. No Danúbio, equipes que trabalham no local ainda não detectaram danos maiores.
Limpeza deve demorar um ano
O desastre começou na segunda-feira, com o rompimento de um dique de um reservatório dos dejetos tóxicos da usina de Ajkai Timfoldgyar Zrt, no oeste do país. O vazamento de 1 milhão de metros cúbicos de lama vermelha, formada pelo despejo de resíduos da produção de alumínio, atingiu também, com menor intensidade, outras quatro localidades.
Entre os países em estado de vigilância estão Romênia, Sérvia e Croácia, todos cortados pelo Danúbio, que desemboca no mar Negro em uma área considerada patrimônio mundial pela Unesco.
O governo húngaro se diz surpreso com o vazamento. Segundo o primeiro-ministro Viktor Orban, há duas semanas houve uma inspeção na fábrica e nenhuma irregularidade foi constatada. O governo estima que será preciso um ano para retirar todo material tóxico vazado.