Todos os anos, o Facebook fatura cerca de um bilhão de dólares no Vietnã, país controlado por um único Partido Comunista. E, para não perder este lucro, Mark Zuckerberg, fundador e CEO da empresa, decidiu pessoalmente que a rede social atenderia às exigências dos censores governamentais para barrar conteúdo da oposição.
Segundo reportagem do The Washinton Post, um dos veículos que fazem parte do consórcio de imprensa debruçado sobre o escândalo do Facebook Papers, antes do congresso do partido no Vietnã em janeiro, o Facebook aumentou significativamente a censura de postagens consideradas "antiestatais", cedendo à legenda o controle completo sobre a plataforma. A informação foi revelada ao jornal por três ex-funcionários anônimos que estavam a par da decisão, e foi confirmada por ativistas locais e defensores da liberdade de expressão no país.
Esta é mais uma das revelações baseadas nos documentos vazados pela ex-funcionária Frances Haugen. As reportagens têm mostrado que, ao contrário do que consta nas diretrizes de comunidade, a rede social possui um duplo padrão para a remoção de conteúdo da plataforma e diversas vezes privilegiou o lucro à fidelidade aos próprios valores declarados.
Este mês, Haugen apresentou as denúcias à Comissão de Valores Imobiliários (SEC) dos Estados Unidos, que pode entrar com uma ação formal contra a empresa e até remover Zuckerberg do cargo de presidente, a depender da comprovação do quanto ele sabia sobre os efeitos e práticas perniciosas da plataforma. Ao The Post, o Facebook afirmou que suas decisões no Vietnã foram tomadas com o objetivo de "garantir que nossos serviços continuem disponíveis para milhões de pessoas que dependem deles todos os dias”. Veja, abaixo, quais foram as principais denúncias já publicadas
Conteúdo extremo
Documentos revelados ainda em setembro mostraram que a empresa, diante de uma baixa de audiência em 2018, programou o algoritmo para valorizar postagens com reações de cunho negativo. Como resultado, interações movidas a raiva ou desgosto são mais impulsionadas do que publicações neutras ou positivas, favorecendo conteúdos apelativos.
Uma reportagem de 22 de outubro mostrou que os líderes do Facebook estão cientes há muito tempo de que este mecanismo favorece a disseminação de conteúdo violento. A plataforma também permitiu o recrutamento de traficantes de drogas por um cartel do México, bem como a atração de mulheres para centros de prostituição com trabalho análogo à escravidão.
Saúde mental
Um relatório interno da empresa demonstrou que o Facebook também estava ciente de que o Instagram, um de seus principais aplicativos, causa impacto negativo na autoestima de adolescentes Uma pesquisa realizada pela própria rede social apontou que uma a cada três meninas se sentiam mal com o próprio corpo depois de acessar a rede.
A empresa também sabia que o aplicativo está associado à intensificação de pensamentos suicidas para 13,5% das adolescentes entrevistadas, e a uma piora de transtornos alimentares para 17% das usuárias. Por conta disso, em setembro, o Subcomitê de Proteção ao Consumidor do Senado americano realizou uma audiência sobre medidas de proteção à saúde mental de crianças e adolescentes usuários dos aplicativos da plataforma.
Lista VIP
A impressão de que o Facebook tem um padrão duplo para julgar políticos e celebridades que infringem suas diretrizes, há muito denunciada por defensores da liberdade de expressão, foi confirmada pelos documentos vazados. Segundo outra reportagem da série Facebook Papers, a rede tem uma "lista VIP" que conta com o ex-presidente Donald Trump e com o jogador Neymar, por exemplo. Os "membros" deste grupo têm passe livre para violar as políticas da empresa - ou, pelo menos, até que estejam dentro dos interesses da empresa.