O Facebook eliminou mais de 600 páginas, grupos e contas falsas que faziam parte de duas campanhas de desinformação diferentes - organizadas pela Rússia e pelo Irã - e que visavam pessoas em todo o mundo, anunciou a empresa na noite desta terça-feira.
A revelação é incomum por ter como alvo pessoas em vários países e por envolver um país não seja a Rússia, que tem sido o foco principal de relatórios sobre operações de desinformação direcionadas aos Estados Unidos.
A descoberta foi feita pela empresa de segurança cibernética FireEye, apontou o Facebook. "Nós removemos 652 páginas, grupos e contas por comportamento não autêntico coordenado. O movimento se originou no Irã e mirava pessoas, por meio de múltiplos serviços de internet, no Oriente Médio, América Latina, Reino Unido e Estados Unidos”, disse Nathaniel Gleicher, diretor de política de segurança cibernética do Facebook , em um post no blog corporativo.
As informações foram confirmadas por Mark Zuckerberg, executivo-chefe da empresa, em uma conferência telefônica na noite de terça-feira. “Acreditamos que estas páginas, grupos e contas fazem parte do conjunto das campanhas”, afirmou. “Um do Irã, com vínculos com a mídia estatal. O outro de um grupo de pessoas que o governo dos Estados Unidos e outros vincularam à Rússia.”
Renee DiResta, diretora de pesquisa da New Knowledge, uma entidade que estuda campanhas de desinformação, disse ao The New York Times que a participação de Irã “reforça que esta é uma guerra de informação em curso, que nosso ecossistema social é vulnerável à manipulação por uma variedade de adversários e que as narrativas estão se disseminando para enganar às pessoas em todo o mundo.”
Investigações internas
As informações foram passadas pela FireEye ao Facebook em julho e apontaram para uma rede de páginas conhecida por “Liberty Front Press”, que tinha vínculos com a mídia estatal iraniana. As primeiras contas foram criadas em 2013.
Algumas delas tentaram ocultar sua localização e publicaram principalmente conteúdo político voltado ao Oriente Médio, Reino Unido, EUA e a América Latina. A partir de 2017, a rede de páginas direcionou seu foco para o Reino Unido e os EUA. Contas e páginas ligadas à “Liberty Front Press” normalmente se apresentavam organizações de mídia e entidades da sociedade civil compartilhando informações em vários países sem revelar sua verdadeira identidade.
O FireEye destacou em um relatório preliminar que “é importante assinalar que a atividade não parece ter sido especificamente desenhada para influenciar nas eleições de meio de mandato nos Estados Unidos em 2018, já que se estende muito além do público americano e a política dos Estados Unidos.”
Frustração
As novas revelações frustraram membros do Congresso, que vêm pedindo ao governo Trump e à indústria de tecnologia que tomem medidas mais decisivas e rápidas para impedir que a Rússia e outros disseminem desinformação online. O Facebook, o Twitter e o Google devem participar de audiência no Senado em 5 de setembro, para discutir a interferência estrangeira na política dos EUA e nas mídias sociais.
Nesta terça-feira, os parlamentares ouviram de integrantes da comunidade de inteligência que advertiram que não apenas a Rússia, mas outros países, como Irã e Coréia do Norte, continuam sendo ameaças à segurança cibernética.
"Rússia, China, Irã e Coréia do Norte representarão as maiores ameaças cibernéticas para os EUA no próximo ano", disse Michael Moss, vice-diretor do Centro de Integração de Inteligência.
Alvo russo
O Facebook foi um dos principais objetivos da desinformação russa em 2016, hospedando 470 páginas e contas que a empresa mais tarde descobriu foram criadas pela Internet Research Agency, em São Petersburgo. O órgão comprou milhares de anúncios direcionados aos norte-americanos, muitas vezes com rublos, e criou posts que alcançaram 126 milhões de americanos. As publicações, frequentemente, usavam mensagens divisivas.
No mês passado, a empresa retirou 32 páginas e contas que atingiram 290 mil pessoas com anúncios, eventos e publicações regulares sobre temas como raça, fascismo e feminismo. Estas contas eram principalmente críticas a Trump. Isto diferia do padrão de 2016, quando as mensagens de desinformação russas se concentraram em reforçar a candidatura do republicano e minar sua rival, a democrata Hillary Clinton.
A decisão está entre as várias medidas tomadas pelas empresas de tecnologia antes da próxima eleição para o Congresso, programadas para novembro. Autoridades dos EUA e especialistas independentes disseram que o evento é um alvo importante para campanhas de desinformação realizadas pela Rússia.
A Microsoft anunciou nesta semana que derrubou seis sites criados pelo notório grupo de hackers russo APT28 - também conhecido como Fancy Bear. Dois deles foram criados para imitar o de dois think tanks sediados em Washington e que criticaram a Rússia: o Instituto Republicano Internacional e o Instituto Hudson. A Microsoft também afirmou que dois candidatos políticos foram submetidos a ataques de spear phishing.