| Foto: MANDEL NGAN/AFP

Trump está enfrentando um teste à sua presidência como nenhum outro líder norte-americano antes dele. 

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 E não é só o conselho especial que é motivo de grande preocupação, nem o fato de o país estar ferrenhamente dividido por causa da atual administração, nem mesmo a possibilidade de seu partido perder a Câmara para uma oposição decidida a derrotá-lo. 

 O dilema – que ele não compreende na íntegra – é que muitos dos membros de seu próprio gabinete estão trabalhando diligentemente para frustrar parte de seus planos e suas piores inclinações. 

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 Eu sei porque sou um deles. 

 Quero deixar claro que a nossa não é a "resistência" popular da esquerda; querermos que o governo dê certo e achamos que muitas de suas políticas já tornaram o país mais seguro e mais próspero. 

 Entretanto, acreditamos que nosso dever, acima de tudo, é para com a nação, e o presidente continua a agir de uma forma prejudicial à saúde de nossa república. 

 É por isso que muitos indicados por ele juraram fazer o que for possível para preservar nossas instituições democráticas, ao mesmo tempo frustrando os impulsos mais insensatos do presidente até que se encerre seu mandato. 

 A raiz do problema é sua amoralidade. Todo mundo que trabalha com ele sabe que Trump não se baseia em nenhum princípio discernível para guiar sua tomada de decisões. 

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 Embora tenha sido eleito como republicano, mostra pouca afinidade com os ideais há muito adotados pelos conservadores, ou seja, mentes, mercados e pessoas livres. Na melhor das hipóteses, evoca esses ideais em cenários pré-ensaiados; na pior, ele os ataca diretamente. 

 Além da campanha maciça que defende a noção de que a imprensa é "inimiga do povo", os impulsos trumpianos são geralmente contra o comércio e antidemocráticos. 

 Não me levem a mal; há pontos positivos que a cobertura crítica quase incessante do governo não registra, como uma desregulamentação eficiente, uma reforma fiscal histórica, as Forças Armadas mais robustas e por aí vai.  Só que esses sucessos aconteceram apesar – e não por causa – do estilo de liderança do presidente, que é impetuoso, beligerante, mesquinho e ineficiente. 

 Funcionários tanto da Casa Branca quanto dos vários departamentos e agências do Executivo admitem, a portas fechadas, a incredulidade diária nos comentários e ações do comandante-chefe – e a maioria vem agindo para proteger seus círculos de ação de seus caprichos. 

 Nas reuniões, o presidente muda de assunto e de humor, começa a resmungar repetidamente e sua impulsividade resulta em decisões desinformadas, mal-ajambradas e quase sempre imprudentes que têm que ser revogadas. 

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 "Não há, literalmente, como saber se vai mudar de ideia de uma hora para a outra", um colega reclamou comigo recentemente, exasperado depois de uma reunião no Salão Oval, na qual o presidente mudou de ideia em relação a uma política importante decidida na semana anterior. 

 Tal comportamento errático seria ainda mais preocupante se não fosse pelos heróis anônimos dentro e à volta da Casa Branca. Alguns de seus assessores são retratados como vilões pela imprensa, mas, nos bastidores, fazem de tudo para manter as más decisões restritas à Ala Oeste, ainda que obviamente nem sempre tenham sucesso. 

 Pode parecer pouco consolo em tempos caóticos, mas os norte-americanos devem saber que há adultos na sala. Reconhecemos integralmente o que está acontecendo – e estamos tentando fazer o que é certo, ainda que Donald Trump não o faça. 

 O resultado é uma presidência dualista. 

 Vejamos a política externa: em público e a portas fechadas, Trump mostra preferência por autocratas e ditadores, como o russo Vladimir Putin e o norte-coreano Kim Jong-un, e revela pouca apreciação genuína pelos laços que nos unem às nações aliadas, de ideologia semelhante à nossa. 

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 Os observadores mais astutos, porém, notaram que o resto do governo opera em outra frequência, na qual países como a Rússia são denunciados por ingerência e punidos de acordo, e os aliados são tratados como iguais, não ridicularizados como rivais. 

 Na Rússia, por exemplo, o presidente relutou em expulsar os muitos espiões de Putin como punição pelo envenenamento de um ex-agente russo no Reino Unido; reclamou durante várias semanas porque os membros mais antigos do gabinete o impediram de confrontar os russos, e se mostrou publicamente frustrado pelo fato de os EUA continuarem a impor sanções a um país de comportamento maligno. Sua equipe de segurança nacional, porém, agiu, tomando a iniciativa e forçando Moscou a assumir a responsabilidade por seus atos. 

 Uma ação como essa não deriva de um "Estado profundo", mas sim de um "Estado estável". 

 Dada a instabilidade que muitos testemunharam, houve rumores iniciais dentro do gabinete de que poderia ser invocada a 25ª Emenda, que daria início ao processo complexo de remoção do presidente. Só que ninguém queria precipitar uma crise constitucional e, por isso, faremos o possível para manter o governo na direção certa até que chegue – de uma forma ou de outra – ao fim. 

 A maior preocupação não é o que Trump tem feito na presidência, mas sim o que nós, enquanto país, permitimos que ele fizesse conosco. Descemos ao mesmo nível que o presidente e permitimos que nosso discurso perdesse a civilidade. 

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 John McCain colocou isso muito bem em sua carta de despedida. Todo norte-americano deveria ouvir suas palavras e se livrar da armadilha do tribalismo, mantendo o objetivo superior de união através de nossos valores comuns e o amor por essa grande nação. 

 Podemos não ter mais o senador, mas sempre teremos seu exemplo, verdadeira referência pela restauração da vida pública e o diálogo nacional. Trump pode temer homens como esse, honrados, mas nós devemos reverenciá-los. 

 Há uma resistência silenciosa dentro do governo, de pessoas que optaram por colocar o país em primeiro lugar – mas a verdadeira diferença só se fará através dos cidadãos comuns que, se erguendo acima da política, estenderão a mão ao outro, deixando de lado os rótulos a favor de uma única denominação: a de norte-americano. 

 

*O autor é um membro do alto escalão do governo Trump

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