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Uma declaração de um procurador do Irã de que o país teria abolido sua polícia de costumes gerou uma onda de desmentidos e ceticismo neste domingo (4) no país asiático.
A corporação está no centro de uma onda de indignação nacional e mundial desde a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos da cidade curda de Saqez que morreu em setembro em Teerã após ser presa e agredida por policiais de costumes por “uso inadequado” do hijab, o véu islâmico. Desde então, o país vive uma onda de protestos, reprimidos violentamente pelo regime iraniano.
O Ministério do Interior não confirmou a afirmação do procurador Mohammad Jafar Montazeri de que a polícia de costumes foi fechada, e a mídia estatal iraniana informou que não cabia a ele fiscalizar a corporação.
Usuários iranianos do Twitter manifestaram ceticismo sobre o comentário do procurador e alegaram que seria uma cortina de fumaça do regime para dispersar os protestos, que teriam o objetivo de gerar uma abertura política e social no país, não apenas abolir a polícia de costumes.
Em uma série de publicações no Twitter, o escritor Arash Azizi detalhou a declaração do promotor. “Em entrevista coletiva, alguém perguntou ao procurador Jafar Montazeri por que a polícia de costumes não estava mais tão presente. Montazeri disse que a patrulha não era assunto do Judiciário, mas da polícia, então ‘eles [polícia] a criaram e fecharam por conta própria’”, escreveu Azizi.
Azizi destacou, entretanto, que apesar do rápido desmentido do regime iraniano à afirmação do procurador, a guerra de narrativas indica que há alguma discussão dentro do governo para relaxar as leis sobre o hijab, “embora seja muito improvável que [o líder supremo do Irã, Ali] Khamenei faça qualquer concessão nesse sentido”.
Azizi acrescentou que Jalal Rashidi Koochi, parlamentar conservador e membro do Comitê de Assuntos Internos do Legislativo iraniano, disse que ouviu comentários de que a polícia de costumes “não terá lugar no novo plano que está sendo preparado pelo Conselho Supremo da Revolução Cultural”.
Porém, Azizi destacou que a polícia de costumes não é uma unidade em si, mas um programa executado pelas forças de segurança com base nas diretrizes do Conselho da Revolução Cultural.
“Portanto, é uma prática que pode ser descontinuada, mas a polícia e o Judiciário ainda podem recorrer a muitas outras medidas para processar as mulheres que não usam o hijab”, ressaltou o escritor.