A escassez de caixões para enterrar os mortos é mais um dos problemas enfrentados pelos venezuelanos por causa da descontrolada inflação e do desabastecimento de alguns alimentos e bens básicos. A falta de materiais para fabricar os caixões tem obrigado as empresas do setor a cortar entre 20% e 30% da produção, o que gera problemas de abastecimento e obriga algumas funerárias a limitar seus serviços.
Edicson Rueda, um humilde técnico de ar-condicionado de 24 anos, enfrentou essa dificuldade de perto. Ele demorou dois dias para conseguir um túmulo e um caixão para sua filha de cinco anos, que morreu duas semanas atrás.
Devastado pela morte da filha e com os olhos ainda inchados de tanto chorar, Rueda relatou, na porta de uma pequena e modesta funerária do bairro pobre de Catia, no oeste de Caracas, que a empresa encarregada do enterro teve de procurar em várias funerárias até conseguir um caixão adequado para o tamanho da menina.
"Queríamos enterrá-la hoje, mas não havia vaga nos cemitérios e então tivemos de esperar por mais um dia", disse o jovem, explicando que o sepultamento de sua filha demoraria dois dias devido a falta de túmulos.
Matéria Prima
O ex-presidente da Câmara de Funerárias e Afins, Pedro Navarro, relata que os fabricantes de caixões no país vêm enfrentando desde o início do ano grandes dificuldades para conseguir as lâminas de metal necessárias para confeccionar os ataúdes porque as principais fornecedoras não têm o produto devido a problemas na produção da estatal Siderúrgica de Orinoco (Sidor).
Navarro explica que essa situação tem obrigado as empresas fabricantes de urnas a realizar intensas buscas para adquirir as escassas lâminas que existem no mercado e limitar as suas produções.
"Há fábricas que estão parando. Outras estão comprando lâminas de espessura mais grossa" para manter a produção, disse o empresário. Na Venezuela, há cerca de 50 empresas que fabricam caixões.
Crise
Escassez de produtos aumenta no comércio; governo omite dados
Os venezuelanos vêm enfrentando desde 2006 problemas de abastecimento, porém nos últimos meses a escassez tem aumentado consideravelmente depois que o governo reduziu a venda oficial de dólares. Isso impede muitas empresas de comprar matérias-primas, peças e equipamentos no exterior e afeta suas atividades de produção.
Embora o Banco Central da Venezuela tenha passado mais de dois meses sem publicar o indicador de escassez, bem como a taxa de inflação, alguns analistas estimam que o desabastecimento tem alcançado níveis históricos.
Vazio
A escassez é palpável na maioria dos comércios de Caracas, onde é fácil encontrar estandes vazios. Em alguns mercados é fácil ver longas filas para comprar todo tipo de produtos depois de os consumidores visitarem vários estabelecimentos e de passar vários dias na busca pelas mercadorias.
A descontrolada inflação, que alcançou em março uma taxa anual de 59%, e o desabastecimento são motivos pelos quais milhares de opositores, em sua maioria de classe média, têm saído às ruas para protestar desde fevereiro em Caracas e em outras cidades.