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Alunos de escola de motorista de caminhão treinam como fazer uma inspeção antes de realizar uma viagem | Dustin Franz/Washington Post
Alunos de escola de motorista de caminhão treinam como fazer uma inspeção antes de realizar uma viagem| Foto: Dustin Franz/Washington Post

Bob Blocksom, ex-vendedor de seguros de 87 anos, precisa de um emprego. Ele não tem dinheiro suficiente para sua aposentadoria. E as empresas de caminhões, desesperadas por trabalhadores, estão dispostas a dar-lhe um posto de trabalho.

A idade não importa, dizem elas. Se Blocksom puder obter sua CDL - carteira de motorista comercial - eles o contratarão para um trabalho de US$ 50 mil (R$ 194,5 mil). Um deles até se ofereceu para pagar suas mensalidades pela escola de treinamento de motoristas, mas havia uma armadilha: Blocksom teria que se comprometer a dirigir um caminhão de 18 rodas por todo os EUA por um ano. 

Até agora, era demais pedir isso a Blocksom, que não quer passar longos períodos longe de sua esposa, com quem está casado há 60 anos. "Quanto mais eu penso sobre isso, mais fica difícil estar na estrada de segunda a sexta", disse ele. 

Impactos negativos sobre a economia 

Como os EUA enfrentam um nível historicamente baixo de desemprego, as empresas de transporte estão fazendo o que os economistas disseram que elas precisam fazer para atrair e reter trabalhadores: estão aumentando significativamente os salários, oferecendo bônus e, inclusive, recrutando pessoas que antes não queriam o emprego.

Mas não está funcionando. A indústria reporta uma crescente escassez de mão-de-obra. Foram abertos 63 mil postos de trabalho este ano, um número que deve mais do que dobrar nos próximos anos. Isto terá um grande impacto na economia americana. 

Quase todos os itens vendidos nos Estados Unidos precisam de um caminhão em algum momento, o que explica o motivo dos desafios enfrentados pela indústria, incluindo as empresas de transporte. Elas aumentam os fretes e os salários. Têm poder especial para afetar toda a economia. Os atrasos na entrega já são comuns, e empresas como Amazon, General Mills e Tyson Foods estão aumentando os preços, à medida que repassam os custos de transporte para os consumidores. Um executivo do Walmart qualificou, em uma reunião com investidores, o aumento no custo de transporte como sendo o principal "vento contrário" da empresa.

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Líderes de empresas de tecnologia como Elon Musk consideram que caminhões sem motorista são uma solução, mas especialistas do setor dizem que isso está a muitos anos de distância. Por enquanto, a indústria simplesmente não consegue encontrar uma maneira de movimentar as mercadorias com a mesma rapidez e economia que tinham no passado. Este problema será especialmente perigoso, dizem os economistas, se a competição por caminhoneiros elevar os preços tão rapidamente que façam os EUA enfrentar uma inflação descontrolada, podendo facilmente levar a uma recessão. 

"Esse problema já está desacelerando a economia", diz Peter Boockvar, diretor de investimentos do Bleakley Advisory Group. "Se se leva uma semana em vez de dois dias para enviar produtos do ponto A para o B, estou perdendo negócios em potencial". 

Sobram vagas 

No TDDS Technical Institute, uma escola independente de motoristas de caminhão, no centro de Ohio (Centro-norte dos EUA), onde Blocksom se matriculou, professores veteranos dizem que nunca viram uma situação tão ruim. Eles acreditam que há mais de 100 mil vagas de motorista de caminhão. 

"Contanto que você possa entrar e sair de um caminhão e passar por um exame físico, uma empresa de transporte prestará atenção em você”, disse Trish Sammons, a coordenadora de recrutamento no TDDS, cujo escritório está cheio de caminhões de brinquedo e panfletos das empresas que a chamam diariamente implorando por motoristas. "Eu recentemente coloquei alguém no mercado que tinha cumprido pena por homicídio". 

Há apenas uma opção agora para a maioria das empresas de transporte: conceder aumentos substanciais. Recrutadores que aparecem diariamente no TDDS estão oferecendo empregos que pagam entre US$ 60 mil (R$ 233,4 mil) e US$ 70 mil (R$ 272,3 mil) por ano, com amplos benefícios e um bônus de US$ 4 mil (R$ 15,6 mil) ao assinar o contrato de trabalho. 

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Profissão perigosa 

Dirigir um caminhão continua sendo uma das profissões mais perigosas da América. Houve mais de 1.000 mortes entre os motoristas em 2016, de acordo com o Departamento de Trabalho dos Estados Unidos. É oito vezes mais mortal do que ser um oficial da Justiça. 

"É preciso ter raça especial para ser um caminhoneiro. É uma tarefa difícil", disse Rick Rathburn Jr., proprietário da TDDS, escola que seu falecido pai abriu no início dos anos 70 e que recentemente uma empresa de caminhões recentemente tentou comprar. 

A comunidade em torno da TDDS está cheia de fábricas e bares fechados. As siderúrgicas fecharam nos anos 80 e a fábrica da GM acaba de anunciar mais de mil demissões. Uma das únicas indústrias em crescimento na área é a de transporte, mas os moradores locais hesitam em se tornar caminhoneiros. 

Um homem, um zelador, que estava na oficina de consertos Larry's Automotive, nas proximidades de Warren, contou que seus tios eram caminhoneiros e disse que eles o "matariam" se ele entrasse no negócio. O dono da loja disse que pensou em se tornar um caminhoneiro, mas decidiu que não era viável depois de ter filhos. 

Trabalhar como motorista de caminhões exige que as pessoas deixem suas famílias por semanas a fio e vivam em uma pequena "cabine" com uma cama desconfortável. Os divórcios são comuns, dizem os motoristas veteranos, e seus filhos os esquecem. Uma vida na estrada é muitas vezes cara e insalubre. Os motoristas ficam sentados horas por dia em caminhões a diesel e param em postos que normalmente servem cachorros-quentes gordurosos e chili. 

Ganho de peso e doenças cardíacas são comuns, diz Gordon Zellers, um médico de Ohio que passa metade do seu tempo examinando caminhoneiros e aplicando testes de drogas, o que faz com que inúmeros candidatos não consigam obter a carteira de motorista. Ele aconselha os alunos da TDDS a consultarem um nutricionista, mas sabe que a maioria não vai. 

Oportunidade 

Alex Thomas e Rob Neal são dois dos alunos mais jovens na TDDS - Thomas tem 26 anos e Neal, 28. Enquanto eles se sentavam em um caminhão no estacionamento da TDDS para treinar, eles brincavam sobre qual seria o primeiro a desenvolver uma "barriga de caminhoneiro". 

Thomas e Neal trabalhavam na construção civil antes de se matricularem no curso de 16 semanas na TDDS. 

O transporte frequentemente compete por trabalhadores com a construção e a indústria. Todas têm feito muitas contratações ultimamente, e à exceção das transportadoras, a construção e as fábricas, não exigem escolaridade adicional. Para obter uma carteira de motorista comercial, o candidato precisa fazer várias semanas de aula, o que pode custar cerca de US$ 7.000. 

Os dois jovens que mudaram para o segmento de transportes dizem que estão fazendo isso pelo dinheiro e porque esperam mais liberdade. Mas muitos de seus amigos se surpreenderam com a decisão. “Trabalhava na extração de areia e cascalho. Os trabalhadores de lá diziam que os caminhoneiros eram a escória”. 

Dificuldades 

Com problemas para recrutar novos trabalhadores, o segmento também está lutando para segurar os motoristas. A rotatividade disparou para 94%, segundo a American Trucking Associations, o que significa que a maioria dos motoristas das principais empresas de transporte não passa mais de um ano em seu emprego. 

Pessoas com carteiras de motorista de caminhão, de repente, se tornaram tão cobiçadas quanto programadores de computador. Os recrutadores de transporte vão diariamente nas escolas de treinamento de caminhoneiros dos Estados Unidos - cerca de 500, segundo a Associação de Treinamento de Veículos Comerciais - em busca dos que estão se formando. 

"Esses caras são como diamantes ", dz Jason Olesh, vice-presidente da Aim Transportation Solutions, que deixou suas férias em família para ir ao TDDS para conversar com os alunos. "Estamos com 90 vagas para uma frota de 650 veículos". 

Instrutor de motoristas de caminhão conversa com alunosDustin Franz/Washington Post

Olesh deu seu melhor argumento aos estudantes: ofereceu-lhes empregos que pagam US $ 70 mil por ano (R$ 272,3 mil) com amplos benefícios e rotas regionais transportando água para locais de perfuração de petróleo. Isso permitiria que os motoristas ficassem em casa na maioria das noites. "Estou lhe oferecendo um emprego regular com um turno de 10 a 12 horas para que você possa ver seus filhos", disse. 

Ultimamente, a indústria tentou ampliar seu apelo, mas as mulheres ainda representam apenas 6% dos motoristas, e os afro-americanos apenas 10%. Mesmo assim, o transporte por caminhão pode ser um caminho para uma vida de classe média. 

Mas enquanto os professores do TDDS adoram o segmento e funcionam como “líderes de torcida” para a indústria, a maioria de seus filhos já foram para a faculdade e agora trabalham em escritórios. "Ser motorista é visto como um último recurso se as pessoas não conseguirem encontrar outro emprego", disse Otto Smith, representante de admissões no TDDS. "Somos um diamante oculto para quem procura trabalho".

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