Como um iceberg que só revela sua ponta, alguns efeitos da mudança climática na Antártida permanecem ocultos em zona poucos estudadas, desafiando os cientistas.

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O desabitado "continente branco", com cerca de 14 milhões de quilômetros quadrados, tem a maior reserva de água doce do mundo, na forma de uma espessa capa de gelo, cujo derretimento total elevaria o nível dos oceanos em até 60 metros.

Há dados sobre o degelo na Península Antártica, a parte do continente que se estende em direção à América do Sul. Mas muitos especialistas acham que faltam mais informações para especular sobre um degelo completo ou sobre outros efeitos imediatos da mudança climática.

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De acordo com a entidade científica British Antarctic Survey, a temperatura da Península Antártica aumentou mais do que em nenhum outro lugar da Terra nos últimos 50 anos.

Os cientistas são praticamente unânimes em afirmar que o aquecimento global das últimas décadas é provocado principalmente por atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis, ao lado de fatores naturais.

Na Antártida, várias plataformas de gelo diminuíram de tamanho nos últimos 30 anos, e seis delas desabaram totalmente. Embora isso não provoque um aumento significativo da água do mar - já que os blocos de gelo bóiam - o fenômeno acelera o avanço das geleiras que estão sobre o continente.

Imagens de satélites revelam que nos últimos anos aproximadamente 415 quilômetros quadrados da capa de gelo da banquisa de Wilkins caíram.

"As banquisas de Wilkins, Larsen e outras menores já desabaram e não existem mais, então aí não há dúvidas sobre o que aconteceu", disse à Reuters o pesquisador Hernán Sala, do Instituto Antártico Argentino.

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Na opinião dele, a falta de registros históricos em parte da Antártida impedem a generalização de conclusões sobre o continente.

"Alguns acham que vai derreter todo, outros que não derrete, e na realidade o que se teria de dizer é que não existe muita informação", explicou Sala, que num recente relatório escreveu que a região central da Antártida é a parte do planeta com menor quantidade de dados disponíveis para análise.

O ambiente hostil, com temperaturas de até -40C, e a distância em relação a centros de abastecimento dificultam a instalação de estações de medição na região do Pólo Sul, e por isso os dados só podem ser colhidos por satélites e sensores remotos.

Sala disse que só seria possível avaliar o que acontece no centro da Antártida se houvesse 30 anos de registros contínuos.

Para tentar preencher tais lacunas, as várias bases internacionais na Antártida buscam dados sobre o passado do continente. Retirando cilindros de gelo, os cientistas encontram pistas sobre como era o clima há várias décadas. Eles chamam esses blocos de "testemunhas".

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"Junto com brasileiros e norte-americanos, estamos tentando extrair uma testemunha profunda da área da Península Antártica. Já tiramos 130 metros de uma testemunha de gelo e queremos tirar uns 300 metros, o que nos daria uns 200 anos de antiguidade de comportamento climático", disse Ricardo Jaña, cientista do Instituto Antártico Chileno.

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