Milhares de afegãos voltaram a formar filas na frente das poucas agências bancárias em funcionamento em Cabul, em tentativa de sacar dinheiro em espécie, em meio a uma dramática crise de liquidez gerada pelas restrições impostas no Afeganistão desde que os talibãs tomaram o poder, no último dia 15.
"Há mais de duas semanas, venho ao banco todos os dias. Tenho na minha conta 250 mil afeganes (R$ 14,5 mil), mas não posso retirá-los, devido a grande quantidade de gente que está aqui. As pessoas, realmente, estão tendo problemas devido a falta de dinheiro", disse à Agência Efe um cidadão chamado Mirwan, morador da região de Baghlan.
Depois de se deslocar mais de 200 quilômetros para sair do norte do território afegão e chegar na fila ainda de madrugada, Mirwan é obrigado a enfrentar uma longa espera com outras pessoas que vieram de toda parte do país, já que as agências bancárias localizadas nas províncias do interior suspenderam atividades.
"Os seguranças ainda são violentos e agridem as pessoas", ainda relatou o afegão.
Outro cidadão local ouvido pela Efe Abdul Rauf Magal também chegou de madrugada na fila, onde são constantes os tumultos, com empurra e empurra e tentativas de entrada à força nas agências.
"As equipes de seguranças do banco e os talibãs não podem controlar a multidão. Há tiros, e as pessoas são afastadas", relatou a fonte, enquanto espera pela chance de sacar algum dinheiro.
Além do fechamento das agências nas províncias, em Cabul, há um limite semanal de saque de 200 afeganes (R$ 11,64) por pessoas.
Esse teto na retirada foi determinado por ordem do Banco Estatal do Afeganistão, segundo explicou o funcionário de uma agência bancária consultado pela Agência Efe, que classificou a medida como temporária".
Além disso, os caixas eletrônicos seguem sem funcionar por razões de segurança, já que a maioria das máquinas está instalada dentro de estabelecimentos comerciais, que seguem com portas fechadas.
Falta de estabilidade e inflação
No Afeganistão, 33 das 34 províncias tiveram o controle tomado em uma ofensiva dos talibãs, que culminou com Cabul sendo invadida no dia 15 de agosto, e com a fuga do presidente do país, Ashraf Ghani, que foi para os Emirados Árabes.
A chegada do grupo fundamentalista ao poder representou um corte na ajuda internacional que era enviada à nação da Ásia Central, que era totalmente dependente deste tipo de envio de verbas, que representava 43% do PIB nacional, segundo dados do Banco Mundial.
Nesta semana, os talibãs, que ainda não formaram um governo, fizeram apelo por respaldo da comunidade internacional, para que seja possível reativar a economia, que ficou fragilizada após duas décadas de conflito armado.
Para isso, o grupo fundamentalista tenta mostrar que garantirá o respeito aos direitos humanos, especialmente os das mulheres e de minorias, apoiará a saída do país de todos os afegãos e estrangeiros que assim quiserem, e evitarão tornar o território uma base para terroristas.
Enquanto isso, a população segue com medo de voltar ao trabalho, especialmente, as mulheres, o que coloca em risco a renda das famílias. Além disso, os preços seguem disparando, no setor alimentício e de combustíveis.
No Afeganistão, um terço da população já estava no epicentro de uma grave crise humanitária, que afetava, em grande parte, as crianças. O acesso aos alimentos é um dos maiores problemas, apontam ONGs que atuam no país.
Pandemia da Covid-19
Sem dinheiro para o pagamento de salários e compra de itens básicos, vários centros de atendimento médico também começaram a paralisar as atividades depois da tomada de poder realizada pelos talibãs.
O ministro da Saúde do governo que estava formado no país, Wahid Majrooh, disse à Agência Efe que há crise no abastecimento de oxigênio e de outros itens utilizados em pacientes com Covid-19.
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