Curitiba Mesmo diante dos esforços do governo regional do Curdistão em atrair investimentos, o fato de a região fazer parte do todo iraquiano dificulta esse processo já que é profundamente afetado pela situação geral do país. A opinião é de Marcelo Rede, professor do departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutor em História Antiga pela Université de Paris I Panthéon-Sorbonne. Em entrevista à Gazeta do Povo, o especialista analisou o cenário na região curda.
Gazeta do Povo O senhor acredita que o governo regional do Curdistão conseguirá atrair investimentos para a região mesmo sob a Guerra no Iraque?
Marcelo Rede Acredito que seja muito difícil, apesar das particularidades locais e da relativa autonomia administrativa e política, a região faz parte do todo iraquiano e é profundamente afetada pela situação geral do país. É preciso não esquecer, aliás, que nos últimos meses grande parte da violência migrou para o norte em função do reforço da segurança na zona de Bagdá. Portanto, enquanto não forem garantidas condições mais efetivas de segurança e a estabilidade política do país, qualquer solução regional está comprometida. Por outro lado, grande parte dos investimentos feitos ou programados até aqui é um fator mais ou menos direto da própria guerra. A guerra e particularmente a guerra do tipo norte-americana gera grandes negócios.
A tensão entre Curdistão e Turquia tende a diminuir?
Recentemente, o Exército turco reforçou as tropas na fronteira com o Iraque e fez mesmo algumas incursões para reprimir os guerrilheiros curdos. O governo turco classifica o movimento separatista do PKK como terrorista e o combate duramente. O grande receio da Turquia é, justamente, que os curdos de seu território aliem-se com os curdos do norte iraquiano e reforcem a luta pela separação do território. Por isso a Turquia vê com maus olhos a autonomia do Curdistão iraquiano. Particularmente, penso que a intervenção da Turquia só não foi mais contundente nesse domínio por causa de sua pretensão em entrar para a União Européia. Isto serviu de freio.
O governo iraquiano pode voltar atrás na decisão sobre a autonomia do Curdistão?
É difícil dizer o que vai acontecer no Iraque em geral e no Curdistão em particular. Talvez o fato de o presidente Jalal Talabani ser de origem curda possa contribuir para garantir os mecanismos de autonomia conquistados até agora. Mas, no geral, o futuro da região é muito obscuro: a intervenção norte-americana e de seus aliados quebrou um equilíbrio forçado e ditatorial, sem dúvida e permitiu que viessem à tona décadas e mesmo séculos de diferenças irreconciliáveis, de natureza étnica e também religiosa.
(KC)