Quarenta anos depois da morte de Victor Jara, a família do cantor chileno afirma ter esclarecido o mistério em torno de seu assassinato e se prepara para prová-lo diante de um tribunal federal em Jacksonville, na Flórida. Jara morreu durante o golpe militar de 1973, quando o general Augusto Pinochet ascendeu ao poder, após ser torturado e vítima de uma roleta-russa.
Parentes do cantor apresentaram uma queixa civil contra o ex-tenente do Exército chileno Pedro Barrientos Núñez, acusando-o de torturar e matar Jara. O crime teria ocorrido em um vestiário do Estádio Nacional do Chile, onde cerca de 5 mil simpatizantes do presidente Salvador Allende estavam detidos.
Barrientos vive atualmente na Flórida e já teria sido notificado pela Justiça. Ele nega que estivesse no estádio na hora em que o cantor morreu. Segundo a família, teria partido dele a ordem para torturar Jara, e o próprio tenente teria disparado o tiro contra a nuca do cantor.
Jara, cujas canções abordavam temas sociais e políticos, foi preso durante o golpe de 1973. Segundo a família, "Barrientos apontou uma pistola para a nuca de Victor Jara e começou a jogar roleta-russa. Colocou uma bala no tambor, deu voltas e apertou o gatilho, sabendo que cada vez que apertava o gatilho poderia ser letal", diz o texto da acusação. "Finalmente disparou de perto contra a nuca e ordenou a cinco recrutas que atirassem repetidamente contra o corpo". O cadáver teria sido alvo de pelo menos 40 disparos.
Segundo a advogada Almudena Bernabeu, do Centro pela Justiça e Prestação de Contas, com sede em São Francisco, a responsabilidade de Barrientos foi relatada por testemunhas que reforçaram a declaração do ex-recruta José Paredes - acusado originalmente pelo assassinato. O nome das testemunhas não foi revelado.
Barrientos já é processado no Chile junto com outro militar pela morte de Jara. Outros cinco são acusados de cumplicidade. A maioria foi detida, mas Barrientos deixou o país em 1989 e agora tem cidadania americana.