Rio de Janeiro Cinco meses depois de o engenheiro João José Vasconcellos Jr. ter sido sepultado no Brasil, a família do funcionário da Construtora Norberto Odebrecht, que foi seqüestrado e morto no Iraque em janeiro de 2005, ainda não recebeu qualquer reparação financeira.
Rodrigo Vasconcellos, filho do engenheiro, reclama que até agora a construtora não passou à família nem mesmo o seguro de vida do pai. Ele revelou que a empresa condiciona o repasse à assinatura de um termo de quitação total, que a família não concorda. Na prática, o documento inviabilizaria a reivindicação posterior de qualquer outro tipo de indenização, que os Vasconcellos acreditam ter direito.
A aparente harmonia entre a família e a empresa que enviou o engenheiro para uma das zonas mais conflagradas do mundo para conduzir a reforma de uma usina termoelétrica deu lugar ao estranhamento desde o funeral de Vasconcellos em Juiz de Fora (MG), sua cidade natal, em junho, que contou com a presença do presidente da construtora, Marcelo Odebrecht. Dois meses depois, foi ao próprio executivo que Rodrigo teve de recorrer, num tom duro, para conseguir reuniões e acesso a documentos sobre a situação trabalhista do pai.
Depois da localização do corpo e a emissão do atestado de óbito de Vasconcellos, em junho, a Odebrecht suspendeu o pagamento à família do salário integral do engenheiro, que havia sido mantido desde o seqüestro.
Também não foi feito o resgate do fundo de garantia do engenheiro e a empresa sequer ofereceu assistência para protocolar no INSS o pedido de pensão da viúva, Tereza Vasconcellos, medida que ela toma sozinha agora. Nos últimos meses, a família vive de economias. Apenas o plano de saúde foi mantido pela Odebrecht.
O desacordo sobre dinheiro começou ainda em julho de 2005, pouco depois do seqüestro, quando a Odebrecht reduziu em um terço o salário do engenheiro repassado à família, como se ele já tivesse voltado à base da construtora em Miami.
Para atuar no Iraque, Vasconcellos teve um acréscimo de 50% ao seu salário de diretor de contrato da Odebrecht Internacional, que a família não revela. A empresa acabou desistindo da redução diante da resistência de Rodrigo.
"Eles alegaram que as obras no Iraque tinham acabado e que não havia mais funcionário lá. Eu disse: isso é mentira. Meu pai não está aqui em casa. Ele está no escritório de Miami com vocês? Meu pai está no Iraque, representando a empresa 24 horas por dia Vocês têm que pagar o salário dele no Iraque sim. Eles levaram meses para entender que não abriríamos mão", contou.
Somente após o enterro do pai, os Vasconcellos procuraram um advogado, mas não ingressaram com um processo na Justiça. Com a ajuda do profissional, formularam uma proposta de reparação financeira, de cujo valor a Odebrecht poderia descontar o do seguro.
Rodrigo não revela as cifras, mas diz que o valor do seguro oferecido é menos de 50% do que a família quer. "Foi feito um cálculo simples, realista, com base nos rendimentos do meu pai e o acontecido no Iraque. Não pedimos nada exorbitante, é muito menos do que as pessoas imaginam. A empresa gastará mais com a festa de fim de ano na Costa do Sauípe, mas a proposta para nós é entrar com zero", disse Rodrigo.
Para o filho mais velho do engenheiro, a Odebrecht insistiu para que a família recebesse o seguro antes do desfecho do caso na tentativa de já evitar um futuro acordo financeiro e agora, numa contradição, adia o pagamento para que a família entre em dificuldades econômicas e aceite apenas o benefício e os recursos da rescisão de contrato do pai.
Apesar do impasse, Rodrigo ainda não pensa em ir à Justiça. Diz acreditar em um acordo. A Odebrecht foi procurada durante três dias, mas a empresa não respondeu as várias ligações.
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