A família do brasileiro Jean Charles de Menezes, morto em julho pela polícia britânica ao ser confundido com um homem-bomba, pediu nesta sexta-feira a demissão do chefe da polícia de Londres, Ian Blair.
O eletricista Menezes, 27 anos, levou oito tiros à queima-roupa ao entrar em um trem do metrô, em 22 de julho, um dia depois de uma frustrado ataque com quatro bombas ao sistema de transporte público da cidade.
Blair disse à época que Menezes estava sendo vigiado como parte das investigações dos atentados, mas no dia seguinte a polícia admitiu que matou o homem errado e pediu desculpas. Duas semanas antes, Londres havia sofrido outro ataque, no qual quatro extremistas suicidas mataram 52 pessoas no transporte público da cidade.
- Em nome da minha família, em nome do povo de Londres, em nome de Jean, digo que os responsáveis devem renunciar, Ian Blair deve renunciar - disse Alessandro Pereira, primo Jean Charles.
Ele afirmou que a morte do eletricista assustou profundamente toda a família, oriunda da zona rural de Gonzaga (MG).
Em entrevista a ser divulgada no sábado pela rádio BBC, Blair disse que não pretende renunciar: "Não, de jeito nenhum. Obviamente, é preciso refletir sobre as opiniões dos outros, mas acho que o grau de apoio que eu e a Polícia Metropolitana tivemos nas últimas semanas supera esses fatos em particular", disse. "Acho que o importante, realmente, é que, por mais trágica que seja a morte do senhor Menezes, e pedimos desculpas e assumimos a responsabilidade por ela, éa morte de 57", afirmou, referindo-se às vítimas do primeiro ataque, inclusive os suicidas.
Na quinta-feira, a Comissão Independente de Queixas contra a Polícia (IPCC), espécie de corregedoria que investiga mortes cometidas pela polícia, disse que a corporação de Blair inicialmente proibiu o órgão de realizar seu inquérito.
A lei manda que casos como esses sejam entregues à IPCC ao fim do dia útil seguinte ao incidente. Mas o caso de Jean Charles levou cinco semanas para chegar ao órgão, segundo um porta-voz.
Documentos policiais e testemunhos obtidos pela rede ITV News contradizem a versão de Blair.
A polícia disse inicialmente que Jean Charles despertava suspeitas porque usava um casaco pesado em um dia quente, fugiu dos policiais armados, pulou a catraca do metrô e correu para o trem.
Mas os documentos obtidos pela emissora indicam que o brasileiro usava uma jaqueta leve, usou bilhete na catraca, caminhava calmamente na estação e parou para apanhar um jornal gratuito antes de entrar e se sentar no vagão.
O IPCC não confirmou a informação de que suspendeu um de seus funcionários por divulgar a notícia à ITV News.
Blair insistiu que seus agentes agiram de boa-fé e que não houve tentativa de acobertar os fatos.
O governo brasileiro anunciou que uma missão viajará à Grã-Bretanha para acompanhar as investigações na próxima semana.
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