Sem ainda dominar o português, Rima Khoury, refugiada da guerra na Síria, busca recomeçar a vida em uma cantina de comida árabe no fim do calçadão da Rua XV de Novembro, no centro de São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba. Ela, o marido e dois filhos chegaram ao Brasil em 2013 e ainda não conseguiram estabilidade no negócio, que funciona de domingo a domingo. Em dezembro daquele ano, solicitaram o registro nacional de estrangeiro –o documento para se estabelecer no país –depois de pedido de refúgio. Receberam o deferimento um ano e meio depois.
Agora, legalmente estabelecidos, lutam contra a crise econômica como qualquer brasileiro. “Vamos tentar mais um pouquinho, mas se as vendas não melhorarem vamos ter que fechar. Estamos vivendo um momento de crise no Brasil, mas é muito melhor do que viver em guerra”, comenta Rima.
Em Aleppo, cidade em que vivia com a família, ela era dona de casa. Por causa da guerra, tiveram que deixar para trás os negócios, duas casas e dois carros. “Tivemos que fugir da nossa cidade para sobreviver. Deixamos tudo. Levamos 15 horas para sair de Aleppo até uma cidade vizinha, Latakia. Um mês depois conseguimos atravessar a fronteira para o Líbano e finalmente chegamos ao Brasil. Nós queremos apenas trabalhar”, disse. Enquanto a cantina ainda não traz o sustento necessário para a família, o marido de Rima, George Minas, que na Síria era dono de três lojas de material hidráulico, hoje tem dificuldade para conseguir trabalho como encanador, devido ao idioma.
Há 40 anos no Brasil, o sírio Elia Amma conseguiu se estabelecer e ter sucesso nos negócios no Brasil. Sensibilizado ao ver seus conterrâneos sofrendo na guerra, Elia começou a trazer famílias para Curitiba. Ele patrocinou a vinda de dezenas de sírios a Curitiba nos últimos dois anos.
Além disso, ele emprega diretamente cinco refugiados em sua oficina mecânica no Boqueirão. “Ver meus amigos sofrendo na guerra partiu meu coração. Por isso comecei a trazer famílias inteiras para o Brasil. Só do meu bairro são mais de 50 pessoas que consegui ajudar a fugir da guerra”, disse emocionado. Questionado sobre como a sociedade pode ajudar os refugiados, Elia disse que o seu povo quer apenas trabalhar. “Neste momento, precisamos que a sociedade coma a nossa comida, traga carros para a nossa oficina, dê empregos aos pais de família recém-chegados da guerra”, disse.,