Aos 73 anos, Ayshem Mamut finalmente reencontrou seus dois filhos e conheceu seus quatro netos após 20 anos de separação forçada pelo regime comunista da China. A reunião ocorreu na Virgínia, na semana passada, graças a um plano secreto dos Estados Unidos para libertar uigures presos sob o controle autoritário de Pequim, revelou uma reportagem publicada pelo The New York Times nesta segunda-feira (2).
O caso de Mamut, segundo a publicação, estava há anos sendo discutido com o regime chinês por membros do alto escalão do governo americano. O presidente Joe biden, em fim de mandato, mencionou novamente a situação da mulher durante um encontro que teve com o ditador da China, Xi Jinping, no Peru, em novembro.
Após anos de tratativas, Mamut foi incluída em uma negociação complexa entre Washington e Pequim para libertar três prisioneiros americanos na China, incluindo um informante do FBI, em troca de espiões chineses presos nos EUA. Junto aos três americanos que voltaram para casa, Mamut e mais outros dois uigures – um homem não identificado e sua filha – puderam deixar o território chinês e embarcar rumo à liberdade.
“Acordar nos Estados Unidos e ver minha família, especialmente meus netos, é nada menos que um sonho realizado,” declarou a mulher ao Times.
Ayshem Mamut representa milhares de uigures que sofrem diariamente com a política repressiva da China. Mamut é mãe do ativista uigur Nury Turkel, ex-comissário da Comissão de Liberdade Religiosa Internacional dos EUA. Turkel, nascido em um campo de reeducação em Kashgar em 1970 durante a Revolução Cultural Chinesa, imigrou para os Estados Unidos como estudante em 1995, obtendo asilo político. Desde então, ele se tornou uma voz ativa na denúncia das atrocidades cometidas pelos comunistas contra a etnia uigur. Por causa do ativismo do filho, Mamut e os demais membros de sua família haviam sido impedidos de deixar a China desde 2009.
“É incrível para mim que ela tenha conseguido se manter firme todos esses anos”, afirmou Turkel, ao relatar a emoção que sentiu ao poder abraçar novamente sua mãe na pista de pouso de uma base militar dos EUA no Texas, local onde ela chegou em novembro.
A perseguição do regime chinês atingiu também o pai de Turkel, Ablikim Mömin, que até foi autorizado a viajar brevemente à Turquia em 2015 para ver os filhos, mas sem a esposa, forçando mais uma dolorosa separação. Mömin faleceu em 2022, aos 83 anos, sem poder ver sua liberdade e a de sua companheira de vida. Turkel, que relatou o sofrimento de Mömin durante o isolamento social imposto pela China na pandemia, não pôde comparecer ao funeral do pai devido às sanções que foram impostas por Pequim contra ele.
“Por causa de anos de separação familiar forçada e, junto com o isolamento social, ele estava perdendo o controle”, lamentou Turkel.
Desde a primeira gestão de Donald Trump, que voltará ao poder em janeiro, o governo americano vinha pressionando a China pela libertação de Mamut e outros uigures que estão presos injustamente. Em 2017, Trump entregou a Xi Jinping uma lista de casos prioritários de detidos, incluindo o de Mamut.
Durante o governo Biden, o tema foi levado a encontros bilaterais em múltiplas ocasiões. Segundo a reportagem do The New York Times, a libertação de Mamut só foi confirmada na última semana de novembro, quando a Casa Branca notificou Turkel de que sua mãe estaria a bordo de um voo especial do governo americano.
Antes de deixar sua casa na China, Mamut visitou o túmulo do marido e preparou tecidos tradicionais uigur para confeccionar roupas para os netos que nunca tinha visto.
O voo que trouxe Mamut e os outros uigures também transportava os três americanos libertados na troca de prisioneiros. Durante uma escala no Alasca, o grupo recebeu ligações do presidente Biden e do secretário de Estado, Antony Blinken.
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