Guerrilheiros das Farc acusaram nesta quarta-feira o ex-presidente colombiano Alvaro Uribe de estar por trás da suposta espionagem da inteligência do Exército a vários dos negociadores do governo no processo de paz e disseram que sua delegação também foi vítima de interceptações similares.
Uribe, que pretende ser eleito senador nas eleições de março, é o principal crítico das negociações de paz realizadas há 14 meses em Cuba entre o governo do presidente Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
"Alvaro Uribe está por trás de tudo isso. Não se esqueça que (Uribe) é o inimigo número um da paz na Colômbia", disse o negociador-chefe da insurgência em Havana, Iván Márquez, a repórteres antes de entrar em uma nova rodada de discussões.
Na primeira reação oficial da insurgência às alegações, sem dar mais detalhes, Márquez disse que "não estão apenas espionando desde a Colômbia a delegação de paz do governo nacional, mas especialmente a delegação de paz das Farc".
"Isso está acontecendo, o que é realmente sério", disse ele.
Uribe negou na terça-feira qualquer envolvimento na suposta escuta ilegal denunciada pela revista Semana sobre os negociadores do governo, incluindo o ex-vice-presidente Humberto de la Calle; o alto comissário para a paz, Sergio Jaramillo; e o alto conselheiro presidencial para a reintegração, Alejandro Eder.
A suposta espionagem denunciada inclui, principalmente, interceptações de e-mails e outras mensagens transmitidas por telefones celulares.
O ex-presidente, que iniciou em seu primeiro mandato a maior ofensiva militar contra os insurgentes com apoio dos Estados Unidos, classificou como "uma infâmia" e uma "cortina de fumaça" envolvê-lo no suposto caso de espionagem.
Este é o primeiro escândalo de espionagem desde que a agência de inteligência do governo, conhecida como DAS, foi fechada, depois de revelações de escutas telefônicas durante o governo de Uribe.
O governo de Santos e as Farc iniciaram as negociações de paz em Cuba em novembro de 2012 com a intenção de acabar com o conflito armado interno de quase meio século que já deixou mais de 200.000 mortos no país sul-americano.