As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que negociam com o governo da Colômbia um acordo de paz em Havana, anunciaram ontem na capital cubana um cessar-fogo unilateral de 30 dias, iniciando em 15 de dezembro.
A declaração vem um dia depois de um ataque a uma delegacia de polícia de Inzá, no sudoeste da Colômbia, que matou oito pessoas. Horas antes de anunciar o cessar-fogo, o grupo disse que esse tipo de ação faz parte do conflito armado com o governo colombiano.
No ano passado, e já em meio às negociações em Cuba, as Farc já haviam declarado cessar-fogo unilateral durante as festas de fim de ano. Ontem, a guerrilha disse também esperar que o governo retribua também oferecendo paz, o que é improvável, já que a decisão de Bogotá é seguir o diálogo sem afrouxar a ofensiva militar.
É a primeira vez que a decisão do governo é sentar-se à mesa com as Farc sem deter o conflito no terreno. Para analistas, ainda que a modalidade gere desconfiança sobre o precesso de paz no terreno, a escolha evita que eventuais descumprimentos da trégua ponham a perder as conversas.
"Segundo um levantamento da Universidade Javeriana de Bogotá, o cessar-fogo do ano passado foi seguido na maior parte do tempo. É um sinal de que as Farc tem controle sobre seus homens", disse à Folha de S.Paulo, o ex-governador de Nariño, Antonio Navarro, que foi um dos chefes da guerrilha colombiana M19 até nos 1990.
O cumprimento dos cessar-fogo pelas Farc é um dado importante porque muitos especialistas dizem que um dos riscos que enfrenta a negociação de paz é a fratura da guerrilha. Frentes das Farc poderiam não aceitar os acordos de paz ou simplesmente poderiam se desligar dos chefes em Havana e seguir nas montanhas realizando atividades ilegais, como narcotráfico e extorsão.
Atentado
Na madrugada de sábado, um grupo de guerrilheiros lançou bombas contra o posto policial em Inzá, deixando oito mortos e 20 feridos, em sua maioria membros das forças de segurança. O presidente Juan Manuel Santos afirmou que a ação dificultará o diálogo com a guerrilha, mas descartou qualquer intenção de cessar-fogo.
Em entrevista na véspera da retomada das negociações em Havana, Jesús Emilio Carvajino, conhecido como Andrés Paris, definiu a ação das Farc como um "assalto a uma fortificação militar-policial localizada dentro de um povoado, algo proibido pelo direito internacional humanitário".
"Esse fato é uma ação que faz parte da confrontação que acontece no nosso país. Nós denunciamos de forma reiterada como a população civil é usada como escudo", disse o negociador, criticando a polícia colombiana, a que considerou "um elo importantíssimo da guerra na Colômbia".
O atentado matou cinco militares, um policial e três civis, segundo o governo colombiano. Na noite de sábado, o ministro da Defesa, Juan Carlos Pinzón, ofereceu uma recompensa de 50 milhões de pesos (R$ 59 mil) para quem der informações que levem aos responsáveis pelo ataque.
Em entrevista, Pinzón qualificou o atentado como "um ato de dementes e de barbárie". Ele também disse que Bogotá oferece 2 bilhões de pesos (R$ 2,35 milhões) para um guerrilheiro conhecido como "Pacho Chino", que lidera a sexta frente das Farc.