Bogotá e São Paulo - As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) anunciaram ontem o fim de sequestros de civis e a libertação dos seus dez "últimos prisioneiros de guerra" militares e policiais mantidos como reféns há mais de dez anos. A guerrilha fez o anúncio como uma oferta para retomar as negociações de paz com o governo. A proposta, contudo, foi recebida com cautela pelo presidente Juan Manuel Santos, que considerou, em mensagem no Twitter, "um passo importante e necessário na direção correta, mas não o suficiente".
Em comunicado em sua página na internet, a guerrilha explica que deixará de sequestrar civis como fonte de renda. Somente nos últimos oito meses, as Farc fizeram ao menos 25 civis reféns.
"Anunciamos (...) que a partir desta data, abandonaremos a prática [do sequestro extorsivo]", diz o texto.
Enfraquecimento
Criada em 1964, a guerrilha tem como principal renda o narcotráfico. Já chegou a ter 17 mil membros, mas hoje conta com cerca de 9 mil. O grupo vem perdendo força na última década diante da ofensiva militar colombiana em áreas mais remotas, que resultou na morte de seus principais líderes.
Desde 2008, a guerrilha libertou unilateralmente 20 reféns, em uma tentativa, sem resultado, de soltar cerca de 500 de seus rebeldes. Em janeiro, o grupo já havia se comprometido a libertar seis oficiais reféns ontem, portanto, as Farc acrescentaram quatro vítimas à lista de libertação.
Sem circo
O presidente da Colômbia disse estar contente pelos reféns e afirmou que o governo dará as garantias necessárias para que a libertação não se transforme em um "circo midiático". O fim dos sequestros e a libertação de todos os reféns são apenas duas das condições do governo para o diálogo, que incluem ainda o fim do recrutamento de menores e da associação com o narcotráfico.
A própria guerrilha faz suas ressalvas a uma trégua. Ela alega que o governo aumentou o orçamento militar, um sinal de "prolongação indefinida da guerra".
Brasil
No comunicado, as Farc aceitam que o governo brasileiro forneça a logística para a libertação dos dez reféns, como já ocorreu em ocasiões anteriores. O exército de guerrilheiros inclusive agradece a "disposição generosa" do governo brasileiro em auxiliar nas operações de resgate.
Desde 2009, o Brasil comandou o resgate de oito reféns, em duas operações, a pedido de Bogotá. Há duas semanas, o Itamaraty havia se comprometido em intermediar a libertação dos seis reféns anunciada em janeiro.