• Carregando...

Félix Antonio Muñoz, conhecido como Pastor Alape, um dos representantes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) nas negociações de paz com o governo colombiano em Cuba, aceitou a possibilidade de os integrantes do grupo armado cumprirem penas de reclusão, caso seja essa a vontade de uma comissão da verdade.

“Se for definido nessa comissão a necessidade deste cenário [reclusão, não necessariamente convencional, de membros da Farc], vamos levar isso em consideração”, disse em entrevista ao jornal colombiano “El Tiempo” publicada neste domingo (31).

Com a declaração, o líder guerrilheiro rompe com a atitude adotada até então pelos integrantes das Farc nas negociações em Havana, que já duram 30 meses. Os representantes da guerrilha manifestaram no passado o repúdio à reclusão de seus membros após a conclusão do diálogo de paz.

Muñoz deixou claro, porém, que tal comissão da verdade teria que avaliar a participação de todos os setores envolvidos na guerra, não somente a da Farc.

“Afetamos as pessoas com atos de guerra, mas isso não é uma política das Farc. Para que a gente não fique defendendo que nós somos os bons e os outros são maus, e vice versa, vamos esclarecer. (...) É preciso estabelecer espaços aonde as pessoas possam ir e pedir pelo esclarecimento de certos temas, chamando os responsáveis. Há setores poderosos que incitaram, promoveram, financiaram e até planejaram a guerra. Todas essas pessoas devem ir a este cenário [de responder frente à comissão da verdade]”, disse.

Já o negociador-chefe das Farc, Iván Márquez, quando indagado sobre a possibilidade de os guerrilheiros serem presos, disse em entrevista ao jornal colombiano “El Espectador” que “o problema é pensar a Justiça como um tema punitivo.”

“Nós devolvemos a pergunta sobre a prisão: pergunte aos dirigentes políticos, aos ex-presidentes e aos empresários. Será que eles estão dispostos a ir para a prisão?”, afirmou.

Clima tenso

As negociações entre o governo de Juan Manuel Santos e as Farc ocorrem em clima tenso, em meio a uma escalada do conflito nos últimos dez dias.

Em 21 de maio, as Farc suspenderam a trégua unilateral que mantinham com o governo após uma operação do Exército colombiano matar ao menos 26 integrantes da guerrilha, entre eles um dos negociadores do acordo de paz. Foi uma das maiores baixas do grupo desde que os dois lados iniciaram o diálogo em Cuba, no fim de 2012.

As negociações entre Colômbia e Farc até agora alcançaram acordos parciais em assuntos como reforma agrária, participação política e drogas ilícitas. No entanto, ainda não há consenso sobre o tema das vítimas, o desarmamento e o fim do conflito, assim como sobre o mecanismo para endossar um eventual pacto final.

O conflito armado no país, que já dura mais de 50 anos, deixou mais de 220 mil mortos e seis milhões de deslocados.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]