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Dossiê brasileiro

Farc tiveram contato com autoridades do governo brasileiro, diz revista colombiana

Na capa da revista Cambio onde se lê: O dossiê brasileiro - Computador de Raúl Reyes revela que os vínculos das Farc com altos funcionários do governo do Brasil, entre eles cinco ministros, chegaram a níveis escandalosos | Reprodução
Na capa da revista Cambio onde se lê: O dossiê brasileiro - Computador de Raúl Reyes revela que os vínculos das Farc com altos funcionários do governo do Brasil, entre eles cinco ministros, chegaram a níveis escandalosos (Foto: Reprodução)

A edição da revista colombiana "Cambio" publicada nesta quinta-feira (31) afirma que representantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) tiveram contato com autoridades do governo e da Justiça brasileiros, além de líderes do PT. A reportagem cita ministros, juízes e dirigentes partidários, como o ex-ministro José Dirceu e o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho. A publicação diz ter tido acesso a e-mails trocados entre 1999 e 2008 por líderes da guerrilha, entre eles seu fundador, Manuel Marulanda, o número 2 das Farc, Raúl Reyes - ambos mortos este ano - e Oliverios Medina, ex-padre e representante do grupo colombiano no Brasil, onde recebeu há dois anos o status de refugiado político.

Medina, codinome usado por Francisco Antonio Cadena Colazzos, é o principal personagem dos emails aos quais "Cambio" teria tido acesso. Parte das correspondências mostraria como as articulações das Farc com autoridades brasileiras ajudaram a evitar a extradição do ex-padre, solicitada pela Colômbia, onde ele foi condenado por homicídio e terrorismo.

Segundo a revista, o governo da Colômbia encontrou no computador que pertencia a Raúl Reyes informações que comprometiam cidadãos e funcionários do governo brasileiro. O guerrilheiro foi morto numa operação no Equador que desencadeou uma crise diplomática na América do Sul. Os dados do computador, chamados na reportagem de "Dossiê brasileiro", teriam sido apresentados na semana passada pelo presidente colombiano, Álvaro Uribe, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião reservada, em visita à Colômbia.

De acordo com a revista, quatro dos emails aos quais teve acesso citam diretamente o presidente Lula. A reportagem destaca a suposta diferença entre o tratamento dado ao presidente brasileiro, que teria sido alertado pessoalmente por Uribe, e os presidentes do Equador, Rafael Correa, e da Venezuela, Hugo Chávez, acusados pelo presidente colombiano de apoiar as Farc.

"É possível que me visite um assessor especial de Lula chamado Silvino Heck, que junto com Gilberto Carvalho foi outra pessoa que nos ajudou bastante" teria dito Medina a Reyes, no email mais recente, que seria de 23 de fevereiro de 2007.

Numa correspondência de 23 de dezembro de 2006, a revista afirma que o ex-padre diz ter mandado documentos para Lula e "dois de seus assessores". Em outro email, que seria de 25 de setembro de 2006, Medina teria dito a Reyes que Lula havia chamado o ministro Paulo Vanucchi, da Secretaria Especial de Defesa dos Direitos Humanos, pedindo que telefonasse para o advogado responsável pela defesa do ex-padre para parabenizá-lo por sua atuação.

Na mensagem mais antiga, datado de 17 de julho de 2004, Raúl Reyes teria dito a Marulanda que o governo Lula ajudaria a guerrilha a chegar a um acordo humanitário para a troca de reféns por guerrilheiros presos.

"Os padres me enviaram uma carta pedindo entrevista com eles no Brasil. Segundo eles dizem, falaram com Lula e este assumiu o compromisso de ajudar no acordo humanitário, intercedendo ante Uribe para efetuar a reunião em seu país", diz o email, segundo "Cambio".

Farc também teriam tentado contato com Garcia e Amorim

As correspondências às quais revista teve acesso também indicariam que as Farc tentavam chegar ao secretário de Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, mas as negociações teriam sido assumidas pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.

"Chegou um jovem de cerca de 30 anos e se apresentou como Breno Altman [jornalista ligado a dirigentes do PT], me disse que vinha da parte do ministro da Presidência José Dirceo (sic), que por motivos de segurança eles haviam acertado que as relações não passarão pela Secretária de Assuntos Internacionais, mas que seriam feitas diretamente através do ministro, com a representação de Breno", teria dito o colombiano José Luis, que morava em Cuba, em mensagem para Medina.

O colunista do jornal O Globo Ilimar Franco informou este mês que Altman diz que tudo não passa de "fantasia" de um militante das Farc "para fazer bonito para seu chefe". O mesmo José Luis teria tentado chegar ao ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, por meio do líder petista Plinio Arruda Sampaio. De acordo com a revista, outros representantes das Farc teriam mantido contato com um procurador, um juíz e com um oficial da reserva das Forças Armadas Brasileiras.

O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) cobrou no início do mês explicações do governo sobre a contratação da mulher de Medina em cargo de confiança pela Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca, informou reportagem de Luiza Damé e Ilimar Franco publicada no jornal O Globo.

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