Gaza (Reuters) Revoltados com a derrota de seu partido na eleição desta semana, milhares de ativistas do Fatah fizeram uma manifestação ontem diante da sede do Parlamento palestino na Cidade de Gaza, incendiando dois veículos. Militantes armados dispararam rifles para o alto e pediram a demissão da cúpula do partido, a quem culparam pela derrota diante da facção islâmica Hamas. Mohammad Dahlan, dirigente do Fatah em Gaza, pediu calma à multidão. "Não ofendam a alma de Yasser Arafat fazendo isso", disse ele, referindo-se ao histórico líder palestino, morto em 2004.
Dahlan garantiu que o Fatah "vai entrar no próximo governo", que deve ser formado pelo Hamas. Seguindo o humor dos militantes, a rádio do Fatah em Gaza tocou uma música chamada "Hoje é Dia de Ódio". Em seus protestos, o Hamas costuma usar a mesma canção. As forças palestinas não intervieram para impedir o protesto.
As Brigadas dos Mártires de Al Aqsa, braço armado do Fatah, ameaçaram "liquidar" os líderes da facção se eles aderirem a um governo do Hamas. A surpreendente vitória do grupo islâmico na eleição de quarta-feira mudou radicalmente o cenário político palestino e tornou mais distante a retomada do processo de paz do Oriente Médio. O grupo promete sentar-se em breve com o presidente Mahmoud Abbas para discutir uma "parceria política". Mas vários líderes do Fatah já rejeitaram qualquer coalizão. "Eu telefonei para o presidente Abbas e concordamos em nos reunir logo após seu retorno a Gaza, em dois ou três dias", afirmou Ismail Haniyeh, um dos líderes do Hamas.
Após a divulgação dos resultados oficiais da votação, na quinta-feira, membros do Hamas também telefonaram para líderes de outras facções para a formação de um novo governo.
No entanto, integrantes do Fatah afirmaram que não pretendem fazer parte de um governo liderado pelo Hamas. Em uma clara referência ao Hamas, Abbas afirmou ontem que o novo governo deve dar prosseguimento às negociações de paz com Israel para a criação de um Estado palestino.
O Hamas, que prega a destruição do Estado de Israel, já realizou dezenas de ataques contra alvos israelenses desde o início da segunda intifada (revolta popular palestina contra a ocupação israelense), em 2000.
A vitória do Hamas nas eleições foi vista como uma reviravolta no cenário político do Oriente Médio, ocasionada pelo descontentamento dos palestinos com as denúncias de corrupção contra o Fatah.
No norte da Cisjordânia, 2.000 seguidores do Fatah realizaram um protesto no qual pediram a renúncia de Abbas. Eles culparam o presidente e outros líderes partidários pela humilhante derrota. "Desperdiçaram 40 anos de luta e sacrifícios do Fatah", disse Abu Majd, militante do Fatah apoiado sobre um rifle.
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