Entrevista
Existe uma ligação entre o religiosos conservadores e o partido republicano
Luiza Mateo, pesquisadora do Instituto de Estudos Econômicos Internacionais da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).
Como a religião tem influenciado os eleitores americanos?
A religião vem sendo uma constante para os Estados Unidos desde a metade do século passado. Um dos grandes momentos em que ela se sobressaiu foi nas duas eleições do George W. Bush, em 2000 e 2004. Isso porque o país vivenciava uma guerra cultural, com debates sobre temas como aborto, casamento gay e células-tronco de apelo moral muito grande. O Bush sempre se colocou como um evangélico atuante e, assim, conseguiu mobilizar uma população evangélica para as urnas.
Mas esse debate diminuiu na última eleição?
O sentido negativo da religião pesou um pouco para o [democrata Barack] Obama, enquanto o [republicano John] McCain levantou a bandeira do conservadorismo moral. E para o Obama também pesou uma herança familiar, que fez com que muita gente acreditasse que ele era muçulmano. Até hoje tem uma parcela dos americanos que acha isso.
Podemos associar a religião aos republicanos?
Há uma ligação entre religiosos conservadores e o partido republicano.
Existem levantamentos que mostram que evangélicos que vão à igreja com mais frequência tendem a votar no Partido Republicano.
A religião é um aspecto central hoje?
O peso religioso é menor. O debate fica mais no campo popular e não se reflete nas intenções de votos. O fato de Romney ser mórmon e de pessoas acreditarem que o Obama é muçulmano não parece ser algo que mobiliza ou desmobiliza as pessoas a votarem neles.
Rodolfo Stancki
Barack Obama é muçulmano. Pelo menos 17% dos eleitores americanos acreditam nessa afirmação, segundo dados do instituto de pesquisa Pew Center. Propagada pela ala radical do Partido Republicano, essa desinformação na verdade, o presidente americano é protestante é apenas uma das questõe s religiosas que circulam às vésperas da eleição presidencial dos EUA.
Embora seja difícil avaliar o peso do protestantismo de Obama ou do mormonismo de Mitt Romney no voto americano, a religião continua sendo uma arma política.
De acordo com o Pew Center, 19% dos americanos se diz desconfortável com a religião do presidente, enquanto 45% se coloca no outro extremo e assume estar confortável. Os que não se importam ou desconhecem a religião do mandatário somam 36%.
No caso de Romney, 40% aceita o fato de ele ser mórmon e querer comandar o país e apenas 13% se sente incomodado.
A religião é um instrumento político usado para gerar desconfiança nos eleitores, explica Denilde Holhacker, professora de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
"A tendência é de que evangélicos, católicos e membros de outras religiões associem suas escolhas políticas à fé nos EUA. Mas algumas conexões se tornam empecilhos nos votos dos cristãos, como o fato de Romney ser mórmon", afirma Denilde.
Como os candidatos almejam os votos cristãos, precisam evitar questões religiosas em suas campanhas, explica a professora. "O que deve ocorrer é o uso de temas ligados à religião, como a defesa de valores cristãos", diz.
Como mórmon, Romney enfrentou bastante resistência dentro do partido. Sua escolha como representante republicano foi surpreendente, diz Bruno Reis, sociólogo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
"Era um risco, mas ele cortejou a extrema direita e tem ideias parecidas, como o veto ao aborto. O maior problema foi durante as primárias republicanas, pois candidatos menores, como Rick Santorum, cresceram em cima da questão religiosa", observa Reis.
Os católicos também fazem parte da equação eleitoral nos EUA. Os dois candidatos à Vice-Presidência, o republicano Paul Ryan e o democrata Joe Biden, são fiéis à Igreja romana, que representa 24% da população do país.
Apesar da diversidade religiosa, Renato Augusto Carneiro, professor de História do Centro Universitário Curitiba (UniCuritiba), defende que a religião não tem tanto impacto nas urnas.
"O que conta é a diversidade dos interesses econômicos. O maior problema dos americanos é a falta de emprego. A religião só vai mudar o foco do que eles precisam enfrentar."
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