O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau| Foto: EFE/ Mariscal
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O que era um símbolo de fé e comunhão para muitos cristãos canadenses se transformou nos últimos anos em ruínas e desolação. Desde 2021, mais de 90 igrejas no país foram alvos de ataques incendiários, a maioria delas católicas, em uma onda de violência que, ao que tudo indica, só está aumentando.

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As ações ainda são vistas como fruto das descobertas em 2021 de supostas sepulturas de crianças indígenas em terrenos de antigas escolas residenciais que eram administradas por instituições religiosas. O assunto causou uma grande comoção no país e no mundo, mas uma investigação realizada no ano passado e divulgada pelo jornal britânico Daily Mail colocou em dúvida a veracidade dessas descobertas, ao apontar que não foram encontrados corpos nas supostas valas comuns que haviam sido identificadas.

Além disso, um artigo do historiador Jacques Rouillard, professor emérito da Universidade de Montreal, publicado em 2022, apontou que as anomalias que estavam sendo detectadas pelos radares que localizaram as sepulturas poderiam estar sendo causadas por rochas e raízes, e que não haviam provas suficientes para sustentar a ideia de que ocorreu um “genocídio cultural” nas escolas residenciais canadenses.

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No entanto, o contraponto parece não ter sido suficiente para frear os ataques contra os templos cristãos, que continuam sendo sistematicamente vandalizados e incendiados em atos que podem ser qualificados como uma “vingança” pelas supostas “covas coletivas” encontradas em 2021. Tal observação foi feita por uma reportagem do Daily Mail, depois que jornal britânico identificou mensagens como “onde estão as crianças” pichadas nas paredes das igrejas que foram atacadas.

O site canadense independente True North catalogou que 96 igrejas foram alvos de ataques pelo país desde 2021. Segundo o levantamento, entre as 96, 44 sofreram incêndios criminosos e 52 foram vandalizadas.

Segundo a emissora estatal CBC, desde 2021, cerca de 33 igrejas do Canadá foram alvos de grandes incêndios que culminaram na destruição total de suas estruturas. A polícia afirma que apenas dois incêndios registrados foram causados de forma acidental. Apenas nove pessoas foram efetivamente presas até o momento.

Informações do Daily Mail vão ainda mais longe ao dar conta de que, excluindo os mais de 30 casos envolvendo os incêndios que resultaram na destruição total dos edifícios, 60 igrejas canadenses foram alvos de ações de vandalismo desde 2021, que incluíram o lançamento de pedras em suas janelas, arrombamentos, diversas pichações e pequenos incêndios que foram controlados pelas autoridades.

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A baixa quantidade de pessoas detidas por causa do envolvimento nos incêndios pode indicar que as investigações pelo país estão ocorrendo de forma lenta ou sem muito interesse por parte das autoridades, que afirmam, segundo a CBC, que somente 24 dos 33 casos relacionados aos grandes incêndios identificados foram concluídos até o momento, os demais ainda estão sob processo de investigação.

Entre os casos catalogados pelo site True North está o da Cross Connection Church, uma igreja evangélica cujo templo foi completamente destruído por um incêndio criminoso ocorrido no ano passado, que resultou também em dois bombeiros que estavam tentando controlar as chamas feridos.

Os responsáveis pelos incêndios criminosos no Canadá não pouparam nem mesmo as igrejas centenárias que existiam no país, como a St. Bernard’s Church, que ficava localizada na província de Alberta e que já tinha mais de 110 anos quando foi queimada no ano passado até ficar completamente destruída, uma ação que foi considerada pelas autoridades locais como criminosa.

De acordo com a CBC, alguns dos casos que envolveram o vandalismo e o incêndio de igrejas ocorreram próximos de territórios indígenas. Em declarações à emissora, algumas lideranças indígenas canadenses condenaram os ataques, dizendo que tais ações “não representam a sua cultura” e que “só aumentam a divisão e o ódio” no país. Outras, porém, expressaram “compreensão” ou indiferença pela destruição dos templos, alegando que tais ações eram “uma resposta contra a opressão e a colonização”.

A reação do governo canadense aos ataques que as igrejas estão sofrendo pelo país está sendo considerada como “tímida e insuficiente” por muitos cristãos, que estão se sentindo abandonados e perseguidos. O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, que se diz católico, já chegou a declarar que a destruição dos locais de culto eram “inaceitáveis” e que “deviam parar”, mas todas essas afirmações foram feitas somente em 2021. Desde esse período, o líder canadense nunca mais se manifestou sobre o tema, nem tomou nenhuma medida mais dura em relação aos ataques.

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O líder da oposição conservadora, Pierre Poilievre, foi mais enfático ao denunciar nesta segunda-feira (22) os ataques como atos criminosos.

“Não há justificativa para incendiar uma igreja, ponto final. Independentemente das outras informações ou justificativas que as pessoas alegam usar, nunca há uma justificação para incendiar uma igreja”, disse ele, acrescentando ainda que Trudeau tem contribuído para fomentar a "divisão" no país e que o primeiro-ministro "não tem feito nada" para conter o aumento da violência contra as comunidades religiosas do Canadá.

Em meio às cinzas dos templos e a falta de segurança, a fé dos cristãos canadenses é posta à prova diariamente. Muitos deles ainda tentam se recuperar da perda de seus locais sagrados, que eram centros de celebração, convivência e comunhão.

Alguns cristãos resilientes já iniciaram campanhas de arrecadação de fundos para tentar reconstruir suas igrejas, outros, no entanto, decidiram não reerguer os templos, temendo que novos ataques ocorram.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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