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Estudo

Fêmeas de chimpanzé praticam infanticídio

Fêmea de chimpanzé com filhote: "assassina por natureza" ou por graça das circunstâncias? | Reuters/Arquivo
Fêmea de chimpanzé com filhote: "assassina por natureza" ou por graça das circunstâncias? (Foto: Reuters/Arquivo)

Mais uma faceta inquietante acaba de ser acrescentada ao lado negro dos parentes mais próximos da humanidade. As fêmeas de chimpanzé (Pan troglodytes), normalmente consideradas vítimas pacíficas dos machos brucutus da espécie, também parecem ser capazes de cometer infanticídio, matando bebês de outras fêmeas por razões que um humano tenderia a descrever como maquiavélicas.

A descoberta foi feita por Simon Townsend e seus colegas da Universidade de St. Andrews, no Reino Unido. Eles acompanham há anos os chimpanzés da comunidade de Sonso, bando que vive numa floresta de Uganda (África Oriental). Entre 2004 e 2006, a equipe registrou três mortes violentas de filhotes novinhos causadas por fêmeas, uma das quais presenciada do início ao fim por eles. O padrão dos ataques parece ser sempre o mesmo: um grupo de macacas se reúne, arranca o bebê dos braços da mãe e dá cabo dele com dentadas na cabeça.

O ataque presenciado por Townsend e por sua colega Katie Slocombe aconteceu em fevereiro do ano passado. Nada menos que seis fêmeas, todas já conhecidas dos pesquisadores, uniram-se contra uma mãe que eles não conheciam, a qual carregava um filhote de uma semana de vida. Quando a dupla de pesquisadores deu de cara com a fêmea atacada, "ela estava gritando e tinha um ferimento ensangüentado em sua região genital. As atacantes, cinco das quais também tinham bebês agarrados ao seu pêlo, a perseguiram", escrevem os pesquisadores na revista científica "Current Biology" desta semana.

As assassinas passaram a golpear as costas da mãe, que se encolhia sobre o bebê, tentando protegê-lo. Três machos adultos do bando gritavam e batiam nos troncos das árvores, como se estivessem aflitos com a cena, e um deles, chamado Maani, chegou a tentar separar as fêmeas. Mas sem sucesso: após dez minutos de pancadaria, a fêmea-líder do bando, Nambi, arrancou os bebês dos braços da mãe.

Outra fêmea, apelidada de Zimba, agarrou-o e mordeu-o com força na cabeça e no pescoço, golpe que provavelmente o matou. Logo depois, um dos machos adultos atacou Zimba e a atingiu na cara. Ela fugiu, ainda com o cadáver do bebê nas mãos, mas depois o jogou no chão. A mãe do filhote nunca mais foi vista no bando.

Competição fatal

As duas outras mortes recentes de bebês envolvendo fêmeas parecem ter seguido o mesmo padrão do ataque descrito acima. É verdade que outros relatos envolvendo macacas assassinas de bebês já tinham sido descritos entre chimpanzés da floresta de Gombe, na Tanzânia, mas até hoje eles haviam sido considerados uma aberração, algo meramente patológico. Para a maioria dos pesquisadores, só macacos machos teriam interesse em realizar esse tipo de ataque -- entre gorilas, por exemplo, isso é uma forma de garantir que só os filhotes gerados pelo macho atacante cheguem à idade adulta.

No entanto, os dados de Townsend e companhia sugerem que a competição também está por trás das ações assassinas das fêmeas. Um indício disso é o fato de que duas das três mães atacadas eram originárias de bandos "estrangeiros". (Entre os chimpanzés, são as fêmeas que trocam de grupo quando chegam à idade adulta.) Outra pista vem da proporção entre macacos e macacas na comunidade de Sonso: ela passou de ser mais ou menos igual para o desequilíbrio completo (um macho para cada três femeas numa população de 75 chimpanzés) no espaço de uma década.

Pior: a população absoluta também cresceu, já que originalmente ela contava só 42 indivíduos. Entre os chimpanzés, o número de machos é determinante para o território do bando, pois são eles que defendem as "fronteiras" de seu grupo. Há, portanto, muito mais fêmeas competindo por recursos dentro do mesmo espaço de sempre. Assim, as macacas assassinas estariam usando as "intrusas" e seus filhotes como bodes expiatórios nas suas tentativas de manter para si a comida e os outros recursos de seu território. A explicação parece fazer todo o sentido, mas mais observações, se possível em outros grupos da espécie, são necessárias para confirmá-la.

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