Cinco anos após o escândalo envolvendo Dominique Strauss-Kahn – na época apontado como provável candidato do Partido Socialista francês à Presidência – e a camareira Nafissatou Diallo, atitudes machistas e casos de assédio sexual envolvendo nomes da política francesa motivaram uma manifestação do lado de fora do Parlamento por parte de grupos feministas nesta quarta-feira (11).
A reação foi amplificada pela publicação do livro “L’Elysée off”, que revela bastidores do governo francês, e pelas investigações sobre um caso de agressão envolvido um ministro.
Um dos episódios apontados no livro é o de Michel Sapin, ministro das Finanças, que teria puxado o elástico da calcinha de uma jornalista. Embora tenha inicialmente negado o ocorrido, o ministro se viu obrigado a se desculpar nesta quarta.
“Durante uma visita a Davos, em janeiro de 2015, fiz um comentário a uma jornalista enquanto colocava minha mão em suas costas. Não houve qualquer intenção machista ou agressiva da minha parte, mas o simples fato de que ela se incomodou mostra que minhas palavras e ações foram inapropriadas”, afirmou o ministro em nota. “Me arrependi na ocasião e continuo arrependido”.
O pedido de desculpas de Sapin se juntou a uma série de acusações de assédio sexual contra Denis Baupin, do Partido Verde, que se viu forçado a pedir demissão da vice-presidência da Assembleia Nacional. O site Mediapart publicou, na segunda-feira, reproduções de mensagens enviadas por Baupin nas quais o ecologista faz propostas sexuais a vereadoras e outras quatro mulheres. Baupin, no entanto, nega qualquer conduta inapropriada.
A líder do Partido Verde, Sandrine Rousseau, uma das vereadoras que receberam mensagens de Baupin, contou que o ecologista, em diversas ocasiões, tentou agarrá-la e tirar sua roupa com “rara brutalidade”. Segundo Sandrine, quando ela relatou o ocorrido a companheiros do partido, muitos deles riram. “Não é nada”, “Denis aprontou de novo”, e “Essas coisas acontecem”, teriam sido alguns dos comentários de seus correligionários.
Jornalistas condenam inércia
Casos como o de Strauss-Kahn e do ex-prefeito de Draveil, George Tron, que renunciou em 2011 após duas acusações de abuso sexual, levaram à criação do coletivo Bas les Pattes (“Tire as patas de mim”, em tradução livre), formado por 40 jornalistas, que publicaram dois relatórios apresentando casos de assédio sexual por parte de políticos franceses. Com a repercussão do escândalo envolvendo Baupin, o coletivo condenou a inércia da classe política frente às agressões. “Muitos preferem rir ou se manter em silêncio sem confrontar a dura realidade”, afirma o Bas les Pattes.
Ministro do Ordenamento do Território, Assuntos Rurais e Comunidades Territoriais, Jean-Michel Baylet é outro nome envolvido em escândalos. Segundo informou o site Buzzfeed News no mês passado, em 2002 ele teria golpeado no rosto sua assistente parlamentar Bernadette Bergon e forçado sua demissão. A assistente já manifestou sua intenção de não levar o processo adiante, mas isso não impediu que a acusação desse continuidade às investigações do caso.
Políticas francesas afirmaram a redes de TV e rádios que os atos divulgados pela imprensa não são casos isolados, descrevendo um rotina diária de comportamentos machistas. Em resposta, o porta-voz do governo, Stephane Le Foll, exortou os políticos a se comportarem, alertando que essa é “a atitude que políticos devem manter em qualquer contexto”.
“Precisamos estar atentos”, declarou o porta-voz.
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