O ex-presidente iraniano Mohammad Khatami se encontrou na sexta-feira (4) com o Papa Bento XVI e disse que as feridas entre cristãos e muçulmanos ainda são "muito profundas", inclusive as causadas pelo polêmico discurso de setembro passado.
Khatami se tornou um dos mais proeminentes clérigos muçulmanos a visitar o Vaticano desde o discurso do Papa em Regensburg, que irritou os muçulmanos por vincular o Islã à violência.
"Essas feridas são muito profundas. Há muitas feridas e elas não podem se curar facilmente", disse Khatami em conferência em Roma pouco antes do encontro com o Papa.
"Certamente, um encontro com o Santo Padre não pode ser suficiente para curar todas essas feridas, mas pelo menos estão fazendo um esforço conjunto a fim de iniciar a cura dessas feridas", disse Khatami.
Em seu discurso de setembro, o Papa citou um imperador bizantino do século 14 segundo o qual o Islã só havia trazido o mal ao mundo e era difundido pela espada, um método contrário à razão e à natureza de Deus.
Ele usou a citação para entrar numa discussão muito mais longa sobre a importante influência do racionalismo da Grécia antiga sobre o começo da fé cristã, e convidou os acadêmicos muçulmanos a entrarem num diálogo sobre fé e razão com os cristãos.
O Papa disse mais tarde lamentar qualquer mal-entendido causado entre os muçulmanos, depois de protestos que incluíram ataques a igrejas no Oriente Médio e à morte de uma freira na Somália.
Promovendo a paz
O Vaticano disse que Khatami e o Papa se reuniram por cerca de 30 minutos e falaram por meio de intérpretes sobre o "diálogo entre culturas", para superar as atuais tensões e promover a paz.
Em conversas que um porta-voz chamou de cordiais, eles também discutiram os problemas da minoria cristã no Irã e no Oriente Médio e incentivaram os esforços de paz como a conferência sobre o futuro do Iraque que ocorre em Sharm El Sheikh, Egito.
Na conferência da manhã de sexta-feira, Khatami, falando por meio de um intérprete, disse que o Cristianismo e o Islã precisam redescobrir suas raízes comuns como religiões monoteístas a fim de melhorar as relações.
"Se as sociedades cristãs e islâmicas pudessem apenas confiar no amor e na justiça e voltar a esses princípios fundadores, e se juntos lutássemos contra a violência e o extremismo, então podemos lançar as fundações para curar qualquer ferida", disse ele.