O líder cubano Fidel Castro criticou o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, pelo que chamou de atitudes antissemitas e questionou suas próprias ações durante a Crise de Mísseis Cubana de 1962 em entrevistas concedidas ao jornalista norte-americano, Jeffrey Goldberg, correspondente da revista The Atlantic.
Goldberg estava de férias no mês passado, quando o diretor da Seção de Interesses Cubanos - que Cuba mantém nos Estados Unidos em vez de uma embaixada - telefonou para dizer que Fidel havia lido seu recente artigo sobre Israel e Irã e gostaria que fosse para Havana para discutir temores de uma guerra nuclear. O jornalista pediu a Julia Sweig, especialista na política EUA-Cuba do Conselho de Relações Exteriores, para acompanhá-lo e os dois passaram três dias conversando com o líder cubano.
A mídia cubana divulgou em 31 de agosto que Goldberg e Sweig se reuniram com o revolucionário e assistiram ao show de golfinhos no aquário de Havana, mas o blog da revista foi o primeiro a revelar detalhes do que foi discutido. O jornalista informou que o primeiro encontro durou cinco horas e contou com a presença da esposa de Fidel, Dalia, de seu filho Antonio e de vários guarda-costas. "Seu corpo pode estar frágil, mas sua mente é vívida, seu nível de energia é alto", escreveu Goldberg, que também observou o humor auto depreciativo do líder cubano.
Segundo o jornalista, Fidel, que tem sido um crítico feroz de Israel, repetidamente abordou seu desprezo pelo antissemitismo, repreendendo Ahmadinejad por negar o Holocausto. O revolucionário disse que o Irã pode promover a causa da paz ao "reconhecer a história do antissemitismo e tentar entender porquê os israelenses temem por sua existência."
Fidel relatou a Goldberg uma história de sua infância, que já foi contada por alguns biógrafos: quando criança ele ouvia os colegas de classe dizendo que os judeus mataram Jesus Cristo. "Eu não sabia o que era um judeu. Eu sabia de um pássaro com esse nome e, para mim, os judeus eram esses pássaros", afirmou o líder cubano, segundo o jornalista. "Isso mostra quão ignorante toda a população era."
De acordo com Goldberg, Fidel disse: "Eu não acho que ninguém tenha sido mais caluniado que os judeus. Eu diria muito mais que os muçulmanos." O revolucionário afirmou que o governo iraniano deve entender que os judeus "foram expulsos de suas terras, perseguidos e maltratados em todo o mundo."
Depois de passar por uma cirurgia intestinal de emergência em julho de 2006, deixando a presidência para seu irmão e ficando recluso por quatro anos, Fidel começou a fazer aparições públicas quase diárias para alertar sobre uma guerra nuclear de Estados Unidos e Israel contra o Irã, bem como um ataque de Washington contra a Coreia do Norte. "Este problema não será resolvido, porque os iranianos não vão recuar diante de ameaças" disse Fidel ao jornalista da revista The Atlantic.
Goldberg também questionou Fidel sobre a Crise de Mísseis Cubana perguntando se alguma vez "lhe pareceu lógico recomendar aos soviéticos que bombardeassem os Estados Unidos." Fidel o surpreendeu ao responder: "Depois de ter visto o que vi, e sabendo o que sei agora, não valeu a pena de modo algum."
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”