Há seis meses, ao discursar na Universidade de Havana, Fidel Castro anunciou uma grande ofensiva para acabar com a corrupção e o roubo no Estado. Descreveu uma situação de fraude generalizada, estimou em centenas de milhões de dólares as perdas anuais e admitiu que, ou se cortava pela raiz o mal, ou a revolução poderia se autodestruir. Desde então, membros do Partido Comunista inspecionaram centenas de centros de trabalho e dezenas de altos funcionários de estatais, suspensos sem alarde.

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Há poucos dias, pela segunda vez num mês, o Partido Comunista Cubano fez mudanças em sua cúpula. Em abril, o escritório político do PCC informara a destituição fulminante de um de seus membros, Juan Carlos Robinson, que por anos dirigiu a organização em Guantánamo e Santiago de Cuba. Numa rara crítica, acusaram-no de "prepotência, abuso do poder e ostentação do cargo". Robinson foi expulso do partido e "as conseqüências legais de seu comportamento" são investigadas.

Desde que Fidel anunciou o furacão contra a corrupção, uma comissão do PCC desembarcou em fábricas, empresas, lojas e até museus e cabarés para fiscalizar o trabalho de gerentes e diretores - na maioria dos casos, membros do partido. Criaram-se corpos de inspetores e células anticorrupção.

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Durante meses, o símbolo da batalha anticorrupção foi a venda de combustíveis. No fim de 2005, Fidel determinou a intervenção em todos os postos de gasolina, refinarias e caminhões-tanque usados na distribuição de combustível por uma força de 10.500 "trabalhadores sociais" diretamente ligados a sua autoridade. O resultado da auditoria foi divulgado recentemente pelo próprio governante: o faturamento aumentou 230%. Em locais como Santiago de Cuba, de cada dólar empregado ficavam com 80 centavos.

Na opinião de vários economistas, o desfalque na venda de combustível revela a magnitude do roubo no país e pode extrapolar a quase todos os outros campos econômicos. No entanto, até funcionários públicos mais leais advertem que é preciso separar corrupção de sobrevivência.

- Na América Latina, um corrupto sozinho pode roubar US$ 11 milhões num golpe. Em Cuba, 11 milhões roubam um dólar a cada dia. E isso é difícil evitar enquanto os salários permanecerem o que são - afirma um investigador de um centro de pesquisas estatal.