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Europa

Filhas de imigrantes mudam a cara do poder na França

 | Sossella
(Foto: Sossella)

Paris – Montfermeil, sexta-feira, 9 de novembro. Fadela Amara, a nova secretária de Estado para Política de Cidades desembarca nesta cidade de 26 mil habitantes a cerca de 15 quilômetros de Paris, que simboliza a pobreza escondida da França: aqui, o desemprego entre jovens bate recorde. Foram os jovens de Montfermeil e da cidade vizinha de Clichy-sous-Bois, na sua maioria filhos de imigrantes, que deslancharam a revolta de 2005 – um movimento que se alastrou por toda a França e que culminou com milhares de carros incendiados no país.

Amara, ela mesma filha da periferia e da imigração (seus pais são argelinos), conhece bem o terreno. Ela era uma desconhecida na França até que, em 2003, lançou-se com um bando de mulheres nas ruas com cartazes com os dizeres "Nem putas, nem submissas", nome da organização que terminou criando. Ela ganhou rapidamente a atenção da mídia, batendo forte contra o uso do véu islâmico e contra práticas religiosas de alguns filhos de imigrantes que, segundo ela, relegavam a mulher a segundo plano.

Hoje, ela é parte do novo rosto da França no poder, uma das três francesas filhas de imigrantes que o presidente Nicolas Sarkozy escolheu para integrar sua equipe. As outras duas são a poderosa ministra da Justiça, Rachida Dati, filha de marroquinos, e Rama Yade, uma senegalesa naturalizada francesa, atual secretária de Estado para Direitos Humano. Com essas nomeações, o governo de direita de Nicolas Sarkozy se gaba de ter feito o que nenhum governo de esquerda fez: reconhecer a diversidade da França.

Os críticos vêem isso como populismo barato. E dizem que Sarkozy está usando a mesma estratégia que usou quando decidiu nomear políticos de esquerda, como o ministro das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, para integrar seu governo. Populismo ou não, o fato é que a cor no poder da França mudou.

Na última sexta-feira, 9 de novembro, Amara desembarcou na periferia com sua nova camisa: a do governo. E tendo à frente um trabalho particularmente espinhoso: é ela quem vai preparar o plano para as periferias pobres da França que o presidente Nicolas Sarkozy planeja anunciar em janeiro. Sua cor "beurre" (marrom) – como os franceses chamam os imigrantes da região do norte da África – e o passado pobre (ela é filha de operários) não a pouparam. Pelo contrário:

"O que a senhora está fazendo aqui com câmeras de televisão? Tá aqui para fazer política diante da câmera ou para nos ajudar?", interpelou Ahmad Ly.

Ly é um revoltado. Ele fundou a associação "Au-delà des mots" (Além das palavras), em memória de Zyed e Bouna, dois adolescentes que morreram eletrocutados quando fugiam da perseguição da polícia na periferia há dois anos. A morte dos meninos foi a gota d’água que fez deslanchar a revolta na periferia de 2005.

"Não temos elevador há nove meses", queixou-se um outro morador a Fadela Amara, num prédio que caía aos pedaços.

Cada promessa de Amara era retrucada com um "Já ouvimos isso, madame".

"A senhora não é bem-vinda!", irritou-se Ly.

A secretária de Estado respondeu no mesmo tom:

"Escute: com ou sem vocês, eu vou fazer um plano Marshall (para a periferia)!"

A nova camisa de Amara – o poder – parece apertada para ela. Depois que entrou para o governo, a ex-militante de rua tem que sair com seguranças e carro oficial. No meio dos militantes, as reações à sua nomeação foram opostas. Enquanto o presidente da ONG SOS-Racisme, Dominique Sopo, saudou sua chegada como uma "boa coisa" para a diversidade no poder, ela foi atacada por algumas associações nas periferias. Para alguns, ela é uma heroína feminista. Para outros, ela estigmatizou a periferia com suas denúncias contra violência contra mulheres e contra sexismo dos jovens – quase todos imigrantes.

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