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| Foto: YASUYOSHI CHIBA / AFP

Quando apareceu na televisão colombiana nesta segunda-feira (12), Jorge Enrique Pizano já estava morto.

Pizano havia deixado a entrevista gravada, disse ele para a câmera, porque como o auditor que sinalizou pagamentos suspeitos em um grande projeto de infraestrutura, ele era objeto de uma conspiração. O caso faz parte da investigação do escândalo envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht no país. A empresa distribuiu pagamentos a políticos e funcionários do governo que a ajudaram a ganhar contratos para construir usinas de energia, rodovias, aeroportos, represas e outras obras públicas, a maioria na América Latina. A empresa chegou a um acordo judicial com o Departamento de Justiça dos EUA em dezembro de 2016, no qual admitiu o pagamento de subornos na região. 

Após a morte de Pizano por ataque cardíaco, seu filho Alejandro Pizano Ponce de Leon, 31 anos, chegou da Espanha. Na casa da família nos arredores de Bogotá, onde seu pai morrera, Alejandro tomou um gole de uma garrafa de água que estava na escrivaninha do quarto do seu pai, sentiu uma forte dor no estômago e morreu de envenenamento por cianureto a caminho do hospital. 

O gabinete do procurador-geral, que confirmou as mortes e o envenenamento, disse na terça-feira que está abrindo uma investigação criminal. 

Pizano era uma testemunha chave em um dos maiores casos de corrupção do país. Sua morte, como a de seu filho, aconteceram semanas depois de o promotor do caso ter sofrido um grave acidente de carro no Chile. 

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Pizano foi contratado como auditor por uma subsidiária do Grupo Aval, o maior grupo bancário da Colômbia. Ele descobriu pagamentos suspeitos em uma parte de uma rodovia de US$ 2,5 bilhões que a Odebrecht e o Grupo Aval estavam construindo e acreditava-se que ele era um alvo. O auditor “se tornou desconfortável para muitas pessoas”, disse na entrevista à TV com o Noticias Uno. 

Em comunicado, o Grupo Aval disse que apoia e está cooperando com as investigações. O Grupo acrescentou que as alegações levantadas por Pizano na entrevista de segunda-feira “não eram novas” e que quando ele sinalizou pagamentos como suspeitos em 2015, não havia indícios de que fossem subornos. 

O Aval também disse que foi uma vítima do esquema da Odebrecht e rejeita “qualquer alegação que pretenda apontar que o Grupo Aval sabia, antes de 21 de dezembro de 2016, que a Odebrecht havia feito pagamentos de suborno”. 

A Odebrecht não comentou o caso de suborno colombiano e não fez comentários imediatos sobre as mortes. 

Como Pizano era de meia idade e sofria de câncer, sua morte na quinta-feira passada não levantou muitas suspeitas imediatamente. Mas a morte de seu filho causou comoção. O gabinete do procurador-geral disse que o exame médico legal mostra que Alejandro morreu de envenenamento por cianeto. O comunicado citou pessoas próximas à família que disseram que ele bebeu a água da mesa de seu pai antes de passar mal e morrer. 

Propinas

A investigação do esquema de suborno da Odebrecht tem se arrastado por dois anos na Colômbia, mesmo enquanto outros países latino-americanos chegaram a uma conclusão dos casos da gigante brasileira. Os promotores dizem que a empresa pagou pelo menos US$ 32,5 milhões em propinas no país para ganhar seis contratos entre 2009 e 2014. Dezenas de pessoas foram envolvidas no escândalo. 

Um porta-voz do gabinete do procurador-geral disse que o promotor que foi ferido no acidente de carro no Chile, Amparo Ceron Ojeda, já foi liberado do hospital. 

Jorge Pizano havia auditado a Ruta del Sol II, um projeto para construir parte de uma rodovia de mil quilômetros conectando o centro da Colômbia com o Caribe. A Odebrecht fez uma parceria em 2010 com uma subsidiária do Grupo Aval e uma empresa familiar de construção chamada Solarte Group no projeto. 

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Pizano começou a soar o alarme sobre o que pareciam ser contratos falsos em 2013, embora ele não tenha percebido a princípio que os pagamentos eram subornos. 

Um dos pagamentos que ele sinalizou foi um depósito de US$ 2,7 milhões feito em junho de 2015 para uma conta do Panamá mantida pela Consultores Unidos Colombia Panamá SA, cujo representante legal, Eduardo Zambrano, foi preso no ano passado em conexão com a investigação de propina da Odebrecht. Ele se declarou culpado de acusações de “enriquecimento ilícito” e está negociando com os promotores sobre outras acusações, informou o gabinete do procurador-geral. 

Pizano disse à Bloomberg que gravou secretamente conversas com Nestor Humberto Martinez, então consultor jurídico do Grupo Aval, e agora procurador-geral da Colômbia. Nessas conversas, Pizano levantou questões sobre os pagamentos suspeitos. 

Em um comunicado, Martinez disse que, na época, Pizano não sabia se esses pagamentos eram subornos e levou as informações para que os responsáveis na empresa investigassem. Martinez se absteve da investigação da Odebrecht por causa de seu trabalho anterior como advogado do Grupo Aval. 

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Pizano disse que planejava divulgar mais informações em breve e havia marcado outra reunião com a Bloomberg para o dia seguinte à sua morte. Ele planejava deixar o país em breve para poder falar mais livremente. 

Seu filho Alejandro, um arquiteto que vivia em Barcelona, havia estava na Colômbia para o funeral do seu pai quando bebeu a água contendo cianeto na mesa de seu pai. Sua mulher, grávida de seis meses, ficou na Espanha. 

A bizarra reviravolta nos eventos adiciona perguntas a um caso que se tornou uma longa dor de cabeça para o Grupo Aval, um conglomerado financeiro que detém vários dos maiores bancos da Colômbia e é controlado por Luis Carlos Sarmiento, 85, cujo patrimônio líquido estimado de US$ 11,1 bilhões faz dele a sexta pessoa mais rica da América Latina. Sua subsidiária Corficolombiana detinha uma participação de 33% no projeto Ruta del Sol II. 

O Grupo Aval teve queda nas suas ações em meio a temores de que a investigação aumentasse. Suas ações preferenciais caíram 3% desde que a Odebrecht chegou a um acordo com o Departamento de Justiça em dezembro de 2016. As ações dos bancos Bancolombia SA e Banco Davivienda SA subiram 16% e 15%, respectivamente, no período.

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