Os restos mortais de um filhote canino de 18 mil anos foram encontrados congelados em um permafrost na Sibéria. A descoberta intrigou os pesquisadores, que ainda não sabem dizer se trata-se de um cachorro ou de um lobo. Eles se perguntam se Dogor, como o bichinho milenar foi batizado, poderia fazer parte da ponte evolutiva que transformou um animal selvagem feroz no melhor amigo do homem.
No entanto, eles não precisam especular sobre a aparência de Dogor, porque as baixas temperaturas o deixaram notavelmente congelado no tempo. Os cientistas podem tocar seu pelo, erguer as patas acolchoadas e afastar os lábios para mostrar pequenos dentes amarelados.
"Temos muitas amostras antigas… Mas essa deve ser uma das mais bem preservadas", diz Dave Stanton, pesquisador do Center for Paleogenetics, em Estocolmo, que tem examinado o canino perdido.
O filhote foi descoberto no ano passado por moradores de Yakutia, disse Sergey Fedorov, que dirige a sala de exposições no Museu Mammoth, da Universidade Federal do Nordeste da Rússia. Ele disse ao Washington Post que limpou cuidadosamente a sujeira e os detritos do gelo e solo que o envolviam para revelar peles quase intactas - "extremamente raras para os animais daquele período".
"É uma sensação incrível ver, tocar e sentir a história da Terra", disse ele.
Evolução misteriosa
O filhote, cujo nome foi anunciado no início desta semana, permanece na Rússia. Mas ele chamou a atenção de pesquisadores da Suécia e da Inglaterra que querem entender melhor a vida e o lugar de Dogor em uma evolução ainda misteriosa.
Testes em um osso da costela revelaram a idade do animal: cerca de dois meses, disse Stanton, pesquisador de pós-doutorado que trabalha há mais de um ano em uma tentativa mais ampla de responder a questões remanescentes sobre a história canina.
A análise também colocou a curta vida de Dogor em um período particularmente interessante, exatamente quando muitas linhagens de lobos foram extintas e acredita-se que os cães tenham surgido. Exatamente como e quando eles evoluíram dos lobos não é claro; um estudo recente estima entre 20.000 a 40.000 anos atrás.
O fato de os testes não poderem dizer se Dogor é um lobo ou um cão fornece mais evidências de uma ligação entre as duas espécies, dizem os cientistas.
"À medida que você volta no tempo, à medida que se aproxima do ponto em que cães e lobos convergem", disse Stanton, "fica mais difícil distinguir entre os dois".
Stanton disse que ele e seus colegas precisam fazer mais análises sobre o genoma de Dogor para aumentar sua confiança de que o sequenciaram corretamente. O trabalho deles está apenas começando.
Felizmente para eles, assim como a pelagem e os dentes do filhote, o DNA está bem preservado.