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Filme mostra drama de mães irlandesas

 | Andrew Testa para The New York Times
(Foto: Andrew Testa para The New York Times)

Philomena Lee tem atualmente 80 anos e já fez as pazes com muitas coisas. No entanto, sua voz fica embargada quando descreve a última vez que viu seu filho primogênito, quando ele era levado para ser adotado por família americana.

Lee queria desesperadamente manter o menino, Anthony, então com três anos. Mas isso foi em 1955. Trancada em um lar católico para mães solteiras em um convento rural em Roscrea, na Irlanda, ela havia, por insistência das freiras, assinado um documento abrindo mão dos seus direitos.

Nunca teve a chance de dizer adeus. Correndo para uma janela no andar de cima, ela chegou a tempo de ver o rosto de Anthony olhando pela traseira de um carro que partia. "Eu posso vê-lo como se fosse ontem", disse Lee recentemente. "Vou levar para sempre essa imagem na minha mente."

Lee, que vive perto de Londres, agora está falando sobre aqueles anos difíceis, quando, recém-saída de um colégio de freiras e ignorante sobre o sexo, engravidou aos 18 anos —tornando-se assim uma entre milhares de jovens irlandesas enviadas para morar em instituições da Igreja Católica para mães solteiras. Nos lares do programa Mãe e Bebê, as mulheres eram obrigadas a trabalhar longas jornadas e tinham poucas opções a não ser desistir dos filhos.

O drama de Lee e a busca por seu filho são o tema de um novo filme, "Philomena", com lançamento mundial nos próximos meses. Judi Dench interpreta a personagem-título. Lee disse que muitos trechos cômicos do filme, como sua avidez por champanhe gratuito, jamais aconteceram. Mas ela aceita os esforços para injetar alguma leveza, pois "do contrário seria uma história muito triste".

"É difícil acreditar como era naquela época", disse ela. "O que havíamos feito era considerado algo muito vergonhoso. Ninguém queria saber de nós."

O filme causou alguma polêmica na Irlanda, onde muitos católicos estão tentando se reconciliar com as revelações sobre práticas abusivas da igreja no passado, quando órfãos, fugitivos e outros indivíduos considerados delinquentes eram submetidos a constantes abusos físicos, sexuais e emocionais.

O filme centra-se no papel da igreja em isolar mães solteiras e forçá-las a entregar seus bebês para que fossem adotados por famílias dispostas a fazerem vultosas contribuições. Autoridades eclesiásticas negaram que tais pagamentos tenham ocorrido, e muitos documentos da época se perderam em um incêndio. Mas os pesquisadores dizem que entre 1945 a meados da década de 1960 pelo menos 2.200 crianças e bebês foram enviados para os EUA.

Mas isso era apenas parte das adoções forçadas. Provavelmente 50 mil bebês nasceram nos lares do programa irlandês Mãe e Bebê, que só seriam fechados nos anos 1990. As condições nesses abrigos eram duras para as jovens mães. A igreja as via como degeneradas. Entre outras humilhações, eles eram obrigadas a relatar detalhadamente seus encontros sexuais para as freiras.

Durante 50 anos, Lee avisou o convento sempre que se mudava e várias vezes visitou o local buscando informações.

Anthony, rebatizado como Michael Hess e criado por uma família do Missouri, também estava tentando achá-la e chegou a ir a Roscrea. Hess, que se tornou advogado em Washington e trabalhou para o presidente George Bush (pai), foi informado de que não havia nada a fazer. Quando estava morrendo de Aids, em 1995, ele pediu que suas cinzas fossem enterradas no convento, para o caso de sua mãe aparecer por lá à sua procura.

Lee se disse atormentada pelo fato de ele ter tentado localizá-la. "As freiras lhe disseram que eu o havia abandonado quando ele tinha duas semanas", disse a mulher. "Ele acreditou nisso a vida toda."

Em troca de uma grande doação, as freiras acataram o desejo dele para o sepultamento. A lápide traz a seguinte inscrição: "Michael Hess, um homem de duas nações e muitos talentos".

Lee se tornou enfermeira psiquiátrica e se casou com um colega. Considerou que ele deveria saber do seu passado antes das núpcias, mas o casal nunca mais voltou a tocar no assunto. Mesmo assim, ela pensava em Anthony todos os dias. "Eu só queria saber que ele foi cuidado, que foi amado."

Durante algum tempo, ela se afastou da igreja. "Perdi minha fé, pois como haveria de mantê-la?"

Pouco antes de descobrir que ele havia virado Michael Hess, Lee disse começou a frequentar novamente a igreja. "Eu gosto de me sentar lá em silêncio e conversar com Anthony. Acho que eu o encontrei porque voltei."

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