O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou nesta terça-feira (26) para os riscos que a economia mundial pode correr se a China continuar freando diante dos constantes surtos de Covid-19 e aos seus consequentes bloqueios, que afetam profundamente a cadeia de abastecimento global.
O FMI divulgou o relatório sobre Perspectivas Econômicas Mundiais, revendo as projeções de abril e estimando que o gigante asiático crescerá 3,3% neste ano, 1,1 ponto percentual abaixo do anteriormente anunciado. Em 2023 espera-se que cresça 4,6%, meio ponto percentual a menos do que anteriormente anunciado.
Esse é o crescimento mais baixo do gigante asiático em mais de quatro décadas, excluindo o crescimento que o país registrou no início da pandemia de coronavírus em 2020.
Em nível global, a entidade também reduziu as previsões de crescimento para 3,2% neste ano e 2,9% no ano que vem (0,4 e 0,7 a menos, respectivamente) e não descartou que as estimativas voltem a piorar devido à elevada instabilidade global.
"Na China, novos confinamentos e o aprofundamento da crise imobiliária fizeram com que o crescimento fosse revisto em baixa em 1,1 ponto percentual, com importantes efeitos de contágio em nível global", adverte o FMI no relatório.
O documento destaca que Xangai, "um importante centro da cadeia global de abastecimento", teve um "bloqueio rígido" em abril que forçou o encerramento da atividade econômica em toda a cidade durante oito semanas.
"A desaceleração na China tem consequências globais: bloqueios e perturbações na cadeia global de fornecimento e diminuição das despesas internas estão reduzindo a procura de bens e serviços dos parceiros comerciais da China", adverte a entidade.
O FMI desenha duas perspectivas para o futuro, uma mais positiva, que inclui medidas fiscais e um repensar da política de "Covid Zero" pelas autoridades, e uma mais negativa, que viria como consequência do surgimento de surtos contagiosos que desencadeiam bloqueios generalizados.
FMI avisa que "pequeno choque" pode levar EUA a recessão
O FMI também advertiu que, embora não preveja uma recessão da economia dos Estados Unidos neste ano nem no próximo, um "pequeno choque poderia ser suficiente" para gerar esse cenário.
A margem dos Estados Unidos para evitar a recessão é "muito estreita", disse Pierre-Olivier Gourinchas, diretor do departamento de estudos do FMI, na apresentação da revisão das perspectivas globais. De acordo com a entidade, a economia americana crescerá 2,3% neste ano e 1% no ano que vem.
Gourinchas admitiu que existem vários indicadores que apontam para uma desaceleração da economia líder mundial e, embora tenha sublinhado que o mercado de trabalho está forte, com uma taxa de desemprego de apenas 3,6%, advertiu que a política monetária restritiva - que já está sendo aplicada para combater a inflação - pode levar a um maior arrefecimento econômico e a piores dados sobre o emprego.
FMI reduz previsão de crescimento global para 3,2% neste ano e 2,9% em 2023
As previsões de crescimento global foram reduzidas para 3,2% neste ano e 2,9% em 2023, em um cenário de alta instabilidade no qual não é descartado um agravamento dessas estimativas.
As previsões anteriores foram reduzidas em quatro e sete décimos de ponto percentual, respectivamente. Os riscos que o Fundo havia apontado em abril já se materializaram e estão afetando a economia global. Trata-se de uma inflação elevada, uma desaceleração mais longa e mais acentuada do que o esperado da economia chinesa e os efeitos negativos da guerra na Ucrânia.
Mas o FMI também calcula um cenário muito mais adverso, no qual imagina o que poderia acontecer se os preços não se estabilizarem, se houver uma parada repentina no fornecimento de gás russo para a Europa, se condições financeiras mais apertadas sufocarem as economias em desenvolvimento e se a geopolítica impedir o comércio global de se desenvolver normalmente.
Nesse caso, e se esses riscos se concretizarem, o Fundo estima um crescimento global ainda menor, de 2,6% neste ano e de apenas 2% em 2023, um número que só foi registrado em cinco ocasiões desde 1970, sempre durante grandes crises - as de 1973, 1981 e 1982, 2008 e 2020.
Nesse relatório, o FMI voltou a pedir aos governos mundiais para que façam da redução da inflação sua "principal prioridade".
Nessas previsões revisadas, o FMI mostra que as principais economias da Europa estão sofrendo mais do que o esperado com os efeitos colaterais da invasão da Rússia na Ucrânia.
América Latina
A América Latina é uma das poucas regiões a ter uma melhora na previsão do Fundo para este ano, que agora se situa em 3%, (meio ponto percentual a mais que o cálculo anterior), embora para 2023 a estimativa seja inferior, de um aumento de 2% (meio ponto percentual a menos).
As duas principais economias latino-americanas, Brasil e México, têm previsões melhores para 2022, embora tenham uma estimativa pior para 2023.
Segundo o FMI, a economia brasileira crescerá 1,7% neste ano (nove décimos de ponto percentual a mais), e 1,1% no próximo ano (três décimos de ponto a menos), enquanto o crescimento do México será de 2,4% este ano (quatro décimos de ponto a mais) e 1,2% no próximo ano (1,3 pontos a menos).
Quanto à inflação, o FMI também é pessimista, acreditando que nas economias avançadas como um todo ela será de 6,3% neste ano (acima dos 4,8% projetados em abril). Para a zona do euro, o percentual estimado é de 7,3%, 2,9 pontos acima da previsão anterior.