PARIS - Vítimas de uma face extremista da religião que escolheram para chamar de sua, duas irmãs, um promissor arquiteto, um músico talentoso e a prima de um jogador de futebol estão entre os muçulmanos mortos nos atentados de Paris.
O grupo Estado Islâmico (EI) reivindicou a responsabilidade pelos ataques da última sexta-feira contra a “França Cruzada”, referindo-se aos cristãos. Com o Islã sendo a segunda maior religião na Europa, no entanto, um massacre no continente tem grandes chances de atingir também a comunidade muçulmana.
As irmãs Halima e Hodda Saadi são de origem tunisiana e comemoravam o aniversário de um amigo no café La Belle Equipe, onde seu irmão Khaled trabalhava, no momento do ataque. Khaled relatou que os atiradores dispararam em todo mundo que estava na varanda do restaurante, matando 19 pessoas.
— Nós somos apenas cidadãos como todos os outros, que amam nossos familiares e as pessoas. Nós éramos oito irmãos e irmãs, e agora somos seis — lamentou Abdallah, um outro irmão, à imprensa francesa.
Amine Ibnolmobarak, de 29 anos, era um arquiteto que cresceu no Marrocos e se mudou para a França para estudar.
— Seus pais o mandaram a Bordeaux para estudar medicina, mas ele fugiu para Paris para estudar arquitetura e logo o notamos — escreveu o professor Marc Armengaud, em homenagem a ele.
Alguns sites com a lista das vítimas dos ataques incluía ainda um vídeo de Kheireddine Sahbi, de 29 anos, tocando música árabe. Para Barthelemy Jobert, presidente da Universidade de Paris-Sorbonne, onde ele estudava, Sahbi era “um violinista argelino virtuoso”.
Lassana Diarra, um jogador de futebol francês de origem malinesa que estava jogando no Stade de France no momento dos atentados, anunciou em sua página no Facebook que sua prima Asta Diakite estava entre os mortos do massacre.
A maioria das vítimas do EI é de muçulmanos. Os extremistas lutam principalmente em países de maioria islâmica e frequentemente atacam comunidades menos radicais como xiitas e sufistas — considerados hereges pelos jihadistas.
— O Daesh (acrônimo árabe do EI) tem matado muçulmanos aos milhares na África e no Oriente Médio — disse Yasser Louati, do Coletivo Contra a Islamofobia na França (CCIF). — A palavra “islâmico” em seu nome é apenas um pretexto para a sua ideologia. Olhe para os ataques. Não têm fim.
A comunidade muçulmana na França representa cerca de 8% da população — a maior da União Europeia (UE). Cerca de 6% dos 129 mortos nos ataques foram identificados pela família e amigos como islâmicos ou pessoas com origens em países de maioria muçulmana.