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Moradores avaliam os estragos causados pelo incêndio que destruiu várias vizinhanças de Valparaíso | Ivan Alvarado/Reuters
Moradores avaliam os estragos causados pelo incêndio que destruiu várias vizinhanças de Valparaíso| Foto: Ivan Alvarado/Reuters

Passado

Incêndio de 2008 já havia deixado claras as fragilidades da região

As vulnerabilidades da segurança nas colinas de Valparaíso ficaram evidentes em 2008 por causa de um incêndio que deixou quatro mortos e destruiu uma centena de imóveis. Uma equipe de analistas recomendou derrubar as casas nas áreas mais altas e perigosas, limpar o lixo das ruas e córregos e construir corta-fogos e caminhos alternativos.

O arquiteto Ivan Poduje constatou em um percurso pela cidade no ano passado que nenhuma das medidas anteriores foi colocada em prática e responsabiliza a prefeitura e o governo central.

A crise econômica e a negligência das autoridades estaduais também tiveram impacto no cenário atual de Valparaíso. "Nem o município nem o governo regional têm os recursos necessários para que Valparaíso possa resolver seus problemas de vulnerabilidade social e territorial", diz Poduje.

Apesar do ambiente boêmio, da agitada vida noturna e do privilégio de ser Patrimônio da Humanidade da Unesco, a Valparaíso atual é apenas um vestígio da cidade sofisticada e elegante que foi no final do século 19, quando se transformou na capital econômica do Chile graças ao comércio marítimo. Seu porto era parada obrigada para os navios que uniam o Atlântico e o Pacífico através do Estreito de Magalhães. A chegada de imigrantes italianos, espanhóis e ingleses deu o ar cosmopolita à cidade.

  • Helicópteros usam água do Pacífico para apagar o fogo
  • Trabalho dos bombeiros deve durar mais duas semanas
  • Residentes dos cerros caminham pelos escombros.

O incêndio que desde sábado consome Valparaíso, no Chile, sublinhou as carências urbanísticas e a vulnerabilidade social da cidade. Hoje, a "Joia do Pacífico" vive nostálgica de um passado próspero.

INFOGRÁFICO: Veja onde estão localizados os focos de incêndio

A geografia urbana peculiar, com ruas estreitas e íngremes em colinas repletas de casas humildes, os ventos fortes e o descaso das autoridades criaram o contexto para uma tragédia de proporções históricas. Até ontem, 15 pessoas haviam morrido, cerca de 2,3 mil casas tinham sido destruídas e 11 mil pessoas foram afetadas pela destruição.

Enquanto 1,3 mil bombeiros e brigadistas florestais lutam contra as chamas nas colinas da cidade, a discussão agora está centrada em estabelecer as causas e em decifrar se a tragédia poderia ter sido evitada ou minimizada.

Para o arquiteto e urbanista Ivan Poduje, o incêndio gigantesco que afetou seis cerros de Valparaíso não foi só o resultado de uma combinação fortuita de fatores, mas consequência da negligência das autoridades para um problema que era conhecido por todos.

"As consequências poderiam ter sido menores. Houve várias advertências por causa de incêndios anteriores, focos de risco foram detectados, mas nenhuma das recomendações foi acatada", disse Poduje.

Situada em frente ao oceano Pacífico, a cidade de Valparaíso tem uma pequena parte plana em frente à costa e é rodeada por 42 colinas que foram povoadas ao longo dos anos, muitas vezes de maneira irregular, longe do controle das autoridades.

"Nessa região há bairros vulneráveis, sem infraestrutura, perto de córregos que acumulam lixo", explicou o arquiteto. Para ele, parte da culpa é da prefeitura, que no plano da cidade regularizou bairros que estavam em áreas de risco, dotando-os de luz, água e ruas.

"Joia"

A cidade chilena de Valparaíso, apelidada de "Joia do Pacífico", tem uma pequena parte plana em frente à costa e é rodeada por 42 colinas que foram povoadas ao longo de anos, muitas vezes sem o controle das autoridades.

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