Badiyan Farhat não dormiu uma única noite desde que um foguete do Hezbollah atingiu a casa dele, em uma cidade árabe de Israel.
- Ainda não consegui tirar da minha cabeça a imagem de meus dois netinhos fugindo em meio às explosões - conta.
O foguete da quinta-feira passada destruiu todas as janelas da sua casa, queimou uma parede e provocou danos no primeiro andar. Os Farhat tiveram sorte. Dois dos vizinhos deles ainda estão hospitalizados.
Em outros pontos de Israel, 12 pessoas foram mortas pelos foguetes.
Mas, apesar de os moradores de Majdel Krum se preocuparem com os ataques do Hezbollah, também voltam os olhos para o bombardeio israelense contra cidades libanesas onde moram muitos de seus parentes.
O combate chama a atenção para o dilema enfrentado pelos árabes de cidadania israelense, presos no fogo cruzado entre o Estado judaico e os demais árabes da região.
- Meu coração está dividido. De um lado, moro em um país atacado por foguetes, e os foguetes não sabem a diferença entre nós e Carmiel - afirmou Hassan Ali, porta-voz de Majdel Krum, citando o nome de uma cidade localizada perto dali e atingida por disparos do Hezbollah. - Também tenho uma tia que mora do outro lado da fronteira.
Parentes de muitos dos moradores de Majdel Krum, uma cidade com 28 mil habitantes, escaparam para o Líbano durante a guerra travada quando da fundação de Israel, em 1948, junto com centenas de milhares de palestinos expulsos de suas casas.
Os palestinos que ficaram para trás transformaram-se em cidadãos israelenses e hoje formam quase um quinto da população de Israel.
Muitos moram na Galiléia, região do norte israelense. E são a maioria dos moradores em muitas das áreas atingidas pelos foguetes do Hezbollah.
Haifa, a terceira maior cidade de Israel e um dos principais alvos da guerrilha, possui moradores árabes e judeus.
Dividido
- Há um conflito entre os sentimentos pelo meu povo e meu sentimento pelo país - afirmou Ali.
Faz anos que uma pausa nos conflitos lhe permitiu visitar a tia, que mora em um campo de refugiados perto da cidade libanesa de Sidon.
Apesar de os árabes e judeus enfrentarem juntos a chuva de foguetes do Hezbollah, há poucos indícios de que a guerra os aproximará depois de um levante palestino iniciado seis anos atrás tê-los afastado ainda mais.
Apesar de reconhecer a oferta do governo israelense de ajuda para Majdel Krum, Ali reclamou que a cidade sofre, como outras cidades árabes, com a falta de verbas. O governo israelense nega a acusação.
- Ninguém cuida do setor árabe de forma séria. Tenho um calhamaço de promessas nunca cumpridas - afirmou.
Enquanto isso, alguns israelenses ressentem-se do apoio aos libaneses entre os árabes do país nesse momento de conflitos.
Pesquisas recentes mostraram que 86% dos israelenses são favoráveis à ofensiva aérea contra o Líbano, na qual já foram mortos ao menos 230 libaneses, 204 deles civis. A ação militar começou depois de o Hezbollah ter capturado dois soldados de Israel e ter matado outros oito, na semana passada.
"Apesar de verem suas casas ameaçadas, eles (os árabes israelenses) ainda são capazes de exprimir solidariedade com os libaneses e criticar as políticas de Israel", escreveu Dganit Kenig, no jornal "Maariv".
Um pequeno número de árabes israelenses, em sua maioria drusos e beduínos, está presente nas Forças Armadas de Israel e tende a ser favorável à ofensiva contra o Hezbollah.
Muitos outros árabes sentem que o governo israelense deveria tentar negociar a libertação dos soldados capturados e estar pronto para libertar prisioneiros libaneses a fim de encerrar a crise.
Farhat deseja que Israel e a comunidade internacional façam tudo o que for possível para encerrar os conflitos.
- Precisamos de paz. E, se Israel e o Hezbollah não quiserem a paz, então a comunidade internacional precisa vir e obrigar todos a fazerem as pazes - afirmou.
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